Um plano para aumentar o fornecimento de água potável em duas cidades costeiras da província sul-africana de Cabo Oriental provoca um acalorado debate neste país. O projeto de US$ 110 milhões para aumentar a quantidade de água potável de Port Alfred e Kenton-on-Sea foi criado pela empresa local de água (Albany Coast Water Board), por uma consultoria de engenharia e uma instituição financeira. O crescente consumo de água nas duas cidades se deve ao aumento da população e à sua popularidade como destino turístico.
À primeira vista, chama a atenção o fato de estas cidades sofrerem escassez de água, pois Port Alfred fica sobre o rio Kowie e Kenton-on-Sea se localiza à margem de outros dois, Bushmans e Kartiga. Mas a água da bacia desses rios é muito salobra devido à origem marinha das formações rochosas da região. As represas que fornecem água a essas duas cidades e outros povoados da região devem ser limpas periodicamente para garantir sua viabilidade.
O polêmico projeto pretende desviar mais água da maior reserva da África do Sul, a represa de Gariep, ao longo de um túnel existente para o rio Fish. A água adicional se extrairia da bacia baixa do rio. Se tratará de uma represa próxima desta cidade de Grahamstown cuja água seguirá por novas tubulações até Kenton-on-Sea e Port Alfred. Porém, o diretor do Instituto de Pesquisas de Água, Denis Hughes, disse que “o recurso extraído do sistema do rio Orange e da represa de Gariep já está dividido”.
A represa fica no rio Orange. Outras críticas ao projeto dão conta de que é muito caro e complicado. Como partes da bacia do rio Orange são propensas a seca, Port Alfred e Kenton-on-Sea poderiam sofrer ocasionais faltas de água, mesmo em época de chuvas se seu fornecimento dependesse da represa de Gariep. A crítica de Hughes também tem a ver com o que descreveu com respostas inadequadas a muitas perguntas feitas aos responsáveis da proposta durante uma reunião pública realizada no mês passado.
Entre os assuntos debatidos no encontro esteve a qualidade da água, questões ambientais e outras opções para melhorar o fornecimento às cidades costeiras. A organização Campanha da Bacia do Kowie sugeriu que se deve pensar seriamente na construção de uma usina de dessalinização como fonte alternativa para obter água doce. Port Alfred já utiliza água de uma pequena unidade dessalinizadora. Mas Bigen Africa, a consultoria de engenharia que propôs a construção de tubulações, disse que esse processo é muito caro.
A dessalinização costuma custar um dólar por quilolitro, segundo o Ministério de Assuntos Hídricos e Florestais. Por outro lado, a água doce custa um quarto ou um terço desse valor. A reserva com que se maneja a proposta de construir tubulações levanta dúvidas entre os moradores da região. Bigen Africa apresentou o estudo de viabilidade do projeto à prefeitura desta cidade no último dia 20 e restringiu a participação do público e da imprensa.
“Querem nos obrigar a aceitar a proposta como um fato consumado”, disse Nikki Kohly da Campanha da Bacia do Rio Kowie. A organização também está preocupada com a qualidade da água que flui por esse rio até o sistema de distribuição de Port Alfred. Grandes redes abertas destinadas a recolher a água da chuva foram construídas no início do século XIX ao lado de várias ruas de Grahamstown, cerca de 60 quilômetros rio acima. Quando chove, a água contaminada vai par ao rio Kowie.
O porta-voz da Campanha da Bacia do Rio Kowie, Jim Cambay, disse que a corrente que sai dos esgotos está em péssima condição. “O curso de água é tratado como um esgoto aberto de resíduos e quando chove a maior parte flui para as fazendas do vale Blemont”. A organização recorre quase exclusivamente a fotografias para controlar os cursos de água da bacia do Kowie. As imagens são enviadas as municipalidade e ao museu Albany desta cidade para por à disposição da população as provas da deterioração dos leitos fluviais. Mas as fotos não revelam nada sobre a qualidade da água.
Cambay expressou sua vontade de realizar análises químicas da água, mas como a organização não tem fundos suficientes para isso, tenta convencer a municipalidade a compartilhar seus registras, um processo que não deu resultado. “Nos últimos cinco anos tentei obter a prefeitura informação sobre a qualidade da água de esgoto despejado no rio Kowie”, disse Cambay. Os coletores de água de chuva fazem parte do sistema de esgoto da área.
(Steven Lang, Envolverde, 03/05/2008)