O Ártico e a Antártida estão literalmente em pólos opostos quando se trata dos efeitos da mudança climática, disseram cientistas nesta sexta-feira (2). No norte, o gelo está derretendo e caindo no mar, enquanto no sul as atuais condições alimentam ventos que resfriam o ambiente.
Ambos os pólos estão expostos à radiação solar e aos gases do efeito estufa, mas a Antártida também é afetada pelo buraco na camada de ozônio nos meses de verão, disseram os cientistas em uma teleconferência.
"Todas as evidências apontam que os efeitos provocados pelo homem estão tendo um papel importante nas mudanças que vemos em ambos os pólos, e é muito difícil encontrar evidências que contradigam isso", afirmou Jennifer Francis, cientista atmosférica da Universidade Rutgers, de Nova Jersey.
Um exame de muitos estudos prévios sobre o clima polar, a ser publicado em 6 de maio na revista Eos, "esvazia ainda mais o arsenal dos que insistem que não é o caso de se preocupar com a mudança climática causada pelo homem", segundo Francis.
No Ártico, segundo Francis e seus colegas, o aquecimento provocado pelas emissões humanas de dióxido de carbono se somou a variações climáticas naturais, gerando consequências como o dramático desaparecimento do gelo marinho no ano passado, uma tendência que deve se manter.
"A variabilidade climática natural e o aquecimento global estavam na verdade trabalhando juntos e deixaram o Ártico num novo estado para o clima, com muito menos gelo marinho", disse o oceanógrafo James Overland, da Administração Nacional Oceânico-Atmosférica dos EUA. "Há pouquíssima chance de que o clima volte às condições de 20 anos atrás."
Na Antártida, o buraco da camada de ozônio cria um novo fator num conjunto já complicado de padrões climáticos, segundo Gareth Marshall, do Departamento Britânico de Pesquisas Antárticas.
As mudanças na pressão atmosférica que acompanham a destruição do ozônio estratosférico são responsáveis pelo aumento nos ventos que sopram em direção a oeste, circundando o continente um pouco ao norte do seu litoral.
Esses ventos isolam grande parte da Antártida de uma parte do aquecimento global, segundo Marshall. A exceção é a Península Antártica, que avança em direção à América do Sul, para além da zona protegida por esses ventos. Ali, os efeitos do aquecimento foram dramáticos, segundo o pesquisador.
O buraco na camada de ozônio é provocado pela emissão de gases que costumavam estar presentes, por exemplo, em sprays e geladeiras. Nas últimas décadas, porém, essas substâncias vêm deixando de ser usadas, graças a tratados internacionais, e por isso a camada de ozônio deve se recuperar totalmente até 2070.
A camada de ozônio protege a Terra de radiações solares nocivas. Sua recuperação, porém, deve contribuir com o aquecimento do interior do continente meridional.
(Ambiente Brasil, 03/05/2008)