Lideranças indígenas, comunitárias e representações de movimentos sociais que vivem no município de Lábrea, no sul do Amazonas, estão se mobilizando para uma manifestação a ser realizada no próximo dia 13 em Brasília. O objetivo é cobrar novamente do poder público a criação das reservas extrativistas (Resex) nas áreas dos rios Ituxi e médio Purus - localizadas no município - e tentar impedir o fechamento do escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na cidade.
A data escolhida para apresentação das reivindicações é a mesma em que será realizado, na capital federal, o Grito da Terra - mobilização promovida há 14 anos pelos trabalhadores rurais. Cerca de 40 pessoas devem sair do Amazonas para participar da ação.
A reivindicação de criação das duas reservas é antiga. Em junho do ano passado, em entrevista à Agência Brasil, o secretário de Política Agrícola e Desenvolvimento da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri) no Amazonas, Aldenor Barbosa, declarou que pelo menos desde 2005 o governo estadual vem postergando essa situação e por isso nenhuma decisão definitiva para implantação das áreas de proteção ambiental foi tomada.
Sobre o fechamento do escritório do Ibama em Lábrea, de acordo com carta das lideranças, essa intenção representa um erro que ainda pode ser revertido. Na carta, eles apontam algumas das conseqüências possíveis caso isso ocorra, como o aumento do número de crimes ambientais no município, incluindo o desmatamento e a extração de madeira ilegal; a caça e pesca predatórias e a extração de minérios (que, segundo as lideranças, já vem sendo ilegalmente praticada na área do Ituxi). Ainda no documento, as representações envolvidas denunciam a precariedade no funcionamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente.
"Por tudo isso, achamos que seria um grande erro por parte das autoridades competentes desativar o escritório do Ibama no município de Lábrea, deixando-nos desprotegidos e desamparados, à mercê dos depredadores, não só o município de Lábrea, mas também Canutama e Tapauá", diz a carta, que é assinada por 17 instituições, entre elas a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Médio Purus (Atamp), Associação dos Produtores Agroextrativistas da Comunidade da Volta do Bucho (APAC – VB Rio Ituxi), Associação das Mulheres Indígenas Médio Purus (Amimp), Associação da Comunidade dos Agricultores Indígenas do Caititu (Acaiac), Comissão Pastoral da Terra (CPT – Lábrea), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Grupo Trabalho Amazônico (GTA), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Associação dos Madeireiros de Lábrea (Asmadel) e Secretaria Municipal de Ação Social.
Segundo a coordenadora regional do Conselho Nacional dos Seringueiros na região do médio Purus, Vanderleide Ferreira de Souza, as denúncias sobre o fechamento do escritório do Ibama em Lábrea surgiram de pessoas que trabalham diretamente com a instituição. Ela revela que a preocupação com essa possibilidade é grande na comunidade, lembrando que o município tem grande extensão de terra e que, em função disso, já existem dificuldades para contenção das ações irregulares no meio ambiente local. "Daqui sai muita madeira clandestinamente. Com o Ibama aqui, já chega a acontecer esse tipo de coisa, imagina se eles saírem da cidade", disse.
A Assessoria de Comunicação do Ibama no Amazonas não confirmou o fechamento do escritório regional da instituição em Lábrea. Contudo, informou que isso pode ocorrer, tendo em vista que existem propostas para redução dos escritórios regionais e implantação do Instituto Chico Mendes em parte dessas localidades.
A carta elaborada pelas lideranças indígenas, comunitárias e de movimentos sociais de Lábrea será divulgada no próximo mês em Brasília. Ela já foi encaminhada à direção do Ibama, do Instituto Chico Mendes e ao Ministério do Meio Ambiente.
(Ambiente Brasil, 03/05/2008)