Projeto de porto internacional ameaça unidades de conservação e turismo no Sul da Bahia
porto sul
minério de ferro
2008-05-02
Desde que o governo da Bahia anunciou, em janeiro deste ano, um novo porto internacional na costa entre Ilhéus e Itacaré, a sociedade civil em Ilhéus debate intensamente, sem a atenção da mídia brasileira e internacional.
Denominado Porto Sul, o projeto contempla recursos de R$ 4 bilhões e, segundo o anúncio oficial, envolve aeroporto internacional, ferrovia Oeste Leste, minérioduto, retroporto, e uma nova zona industrial. O concreto agora é o escoamento do minério de ferro de Caetité para a China. A cidade, mais conhecida na Bahia pela produção de urânio, estaria sendo conectada a Ilhéus através de parceria público privada com a Bahia Mineração Ltda. O Diário Oficial do dia 19 de março anunciou a abertura de 10 mil empregos.
Em 4 de janeiro, o governo criou um GT entre as secretarias do governo para gerar um estudo preliminar, capaz de selecionar áreas potenciais para a construção do porto. A primeira apresentação dos estudos, a um mês atrás, indicou que a melhor área fica a 20 Km da cidade de Ilhéus, ao lado de uma imensa lagoa natural, conhecida como Lagoa Encantada. O mirante de Serra Grande seria impactado pela nova imagem, com um porto em alto mar e grandes navios ao seu lado.
O Sul da Bahia possui extensas praias ainda preservadas, conhecidas como das mais bonitas do Brasil. Itacaré é um dos destinos mais citados pela mídia especializada desde que a rodovia, em 1998, a ligou a Ilhéus, 65 Km ao sul.
Conhecida como estrada parque e construída com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, toda ela passa por áreas de proteção ambiental. O Ministério do Meio Ambiente elegeu esta região como área prioritária para implementar corredores ecológicos, já tendo investido no Parque Estadual da Serra do Conduru para a elaboração do Plano de Manejo, com recursos do Banco Mundial. A APA de Itacaré Serra Grande hospeda florestas com altíssima diversidade de árvores lenhosas, Record mundial detectado pelo New York Botanical Garden e CEPLAC, Órgão de Cacau do Sul da Bahia. Além de árvores, a região hospeda muitas espécies ameaçadas de extinção, como o macaco prego de peito amarelo (Cebus xanthosternos), mutum do nordeste (Mitu mitu mitu) e a preguiça de coleira (Bradypus torquatus).
O receio dos ambientalistas é de que as áreas protegidas e a economia do turismo sejam comprometidas irreversivelmente pela nova lógica de povoamento da costa – o que inclui imensa área de beneficiamento de minério de ferro, similar ao que ocorre na Grande Vitória, propagando fuligem mineral em um raio de 30 Km. O mais grave: sem estudo de impactos ambiental, o governo decretou como utilidade pública área de 1780 hectares para minerioduto e retroporto. O aeroporto consumiria mais 700 hectares em plena Área de Proteção Ambiental da Lagoa Encantada, sobre remanescentes florestais e ao lado de povoados de pescadores artesanais, a exemplo Areias, Juerana e Ponta da Tulha.
(Por Rui Barbosa da Rocha, Instituto Floresta Viva, 24/04/2008)
Rui Barbosa da Rocha, 41 anos, diretor do Instituto Floresta Viva e professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, atua a 18 anos em meio ambiente e desenvolvimento sustentável na Amazônia e Mata Atlântica. Sua instituição, em parceria com a universidade, empresários e comunidades locais, desenvolve trabalhos em agroecologia, ecoturismo e unidades de conservação no Sul da Bahia.