Em lugar de produzir alimentos para os capixabas, as terras agrícolas do Espírito Santo são empregadas para plantios de eucalipto e cana-de-açúcar. Os plantios só geram lucros para as transnacionais do agronegócio, como a Aracruz Celulose. Como conseqüência, os capixabas pagam preços maiores por alimentos básicos como arroz, milho e feijão.
A política dos governos federal e estadual torna o Estado importador de alimentos. O governo não divulga a quantidade de terras agrícolas usadas nos plantios de eucalipto, que podem ocupar até 300 mil hectares, a maioria da Aracruz Celulose.
A cana-de-açúcar ocupa atualmente cerca 60 mil hectares plantados. Pelo menos dobra a área ocupada nos próximos anos, com os projetos em implantação. Há agravantes: a região de montanha, que produz alimentos, está sendo transformada em produtora de eucalipto.
Raul Ristow Krause, da coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), lembra que o desvio das terras agricultáveis para os monocultivos do eucalipto, da cana, e agora para produção de outros insumos dos biocombustíveis, só aumentará as dificuldades de acesso da população aos alimentos, pelo crescente escassez, com conseqüente aumento dos preços.
Há inflação dos preços da terra na região de montanha, aponta o MPA, pois terras antes destinadas à produção de alimentos, são agora anunciadas como ótimas para produzir eucalipto. Sem vocação para a agricultura, os novos proprietários acabam plantando eucalipto ou pinus.
Outro agravante é a ausência de financiamento para produção de alimentos em vastas áreas, como no norte e noroeste do Estado. Sem recursos para custeio (compra de sementes, plantios e mão-de-obra) e para investimento (infra-estrutura da produção e beneficiamento), os agricultores se limitam a produzir para o consumo da família.
Os agricultores condenam a política dos governos federal e estadual em valorizar o agronegócio, prejudicando a agricultura familiar. É a agricultura familiar que produz cerca de 70% dos alimentos que os brasileiros consomem. Para produzir com segurança, exigem preço mínimo, seguro agrícola, financiamento da estrutura produtiva, investimento em pesquisa na área de agroecologia. Querem também recursos para armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos agrícolas.
Com o apoio dos governos federal e estadual ao agronegócio, a concentração de terras no Espírito Santo vai aumentar nos próximos anos, principalmente para produção de eucalipto e cana-de-açúcar. Com espaços de produção cada vez menores, o preço dos alimentos no Espírito Santo vai subir.
"O agronegócio capixaba é que não vai produzir arroz e feijão", conclui Raul Krause.
O desvio de terras agrícolas para produção de biocombustível, com conseqüente redução da produção dos alimentos, vem sendo denunciado em todo o mundo.
(Por Ubervalter Coimbra,
Seculodiário, 01/05/2008)