O coordenador da Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos (APITSM), Lourenço Wapichana, manifestou hoje (30), durante entrevista coletiva em Brasília, solidariedade aos índios que moram na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. A associação representa 5 mil indígenas que vivem em área vizinha à reserva. Wapichana criticou a atuação na região do líder dos arrozeiros e prefeito de Pacaraima - município no limite das duas localidades - Paulo César Quartiero.
“Temos lá esse senhor Paulo César, uma pessoa que tem vários processos e está lá criando confusão e conflito, jogando uns contra os outros, pisando na sociedade indígena e, de repente, é conduzido a prefeito de Pacaraima. Isso assustou nossa população. Onde está o pensamento das autoridades brancas?”, argumentou Lourenço, ao questionar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que anulou a cassação de Quartiero em processo de acusação de compra de votos.
O representante da etnia Wapichana lembrou que Terra Indígena São Marcos também já foi afetada por ações atribuídas aos arrozeiros, que teriam queimado pontes e interditado estradas da reserva que dão acesso à Raposa Serra do Sol. Ele avalia que a demarcação em ilhas, que permitiria a permanência dos produtores na região, seria “muito ruim para o povo [indígena]” e “abre precedente para todas as terras do Brasil”.
As críticas foram reforçadas pelo coordenador-geral do Conselho Indígena de Roraima (CIR), o makuxi Dionito José de Souza. Para ele, são os arrozeiros que ameaçam a soberania nacional, e não a terra indígena em área contínua na fronteira, conforme defendido por setores militares. “Lá tem um arrozeiro invasor que destruiu pontes, levou pistoleiros, colocou uma bandeira da Venezuela na entrada da terra indígena e incentivou a fabricação bombas caseiras.”
Na entrevista, os índios também sustentaram que não são “empecilho ou entrave” para o desenvolvimento econômico de Roraima e se disseram responsáveis pela preservação ambiental da região. “Os não-índios seguem desmatando a terra. Onde tem só índio a terra é verde e a água é limpa, pura e gostosa”, afirmou Dionito. “Não negociamos de qualquer forma com os rizicultores”, acrescentou.
O dirigente do CIR disse ainda temer o que acontecerá se a Polícia Federal - que no momento atua na manutenção da ordem na terra indígena - deixar a região. “Podem voltar a guerrilha e os ataques às nossas comunidades”.
A posição dos índios que apóiam a permanência dos arrozeiros na Raposa Serra do Sol foi definida da seguinte forma: “Há uma dominação pelos rizicultores, que dão alguma mixaria, um quilo de arroz, para alguns indígenas aparecerem na mídia e dizerem que a saída deles [produtores] levaria índios a passar fome. Eu desafio qualquer um e isso não vai acontecer.”
Segundo Dionito, os índios da Raposa Serra do Sol têm produção própria de feijão, mandioca, farinha e carne bovina. A promessa é fazer uma “grande churrascada” para comemorar um decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF) à demarcação contínua da terra.
(Por Marco Antônio Soalheiro,
Agência Brasil, 30/04/2008)