Como arma contra a ação de pichadores, Porto Alegre investe no uso de tinta antipichação para preservar o patrimônio. Depois de aplicadas sobre paredes e muros, as tintas sprays são facilmente removidas com jatos de água ou produtos de limpeza.
Em agosto passado, a tinta especial começou a ser aplicada nos 12 principais viadutos da cidade pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). A pintura já foi concluída em quatro viadutos e consumiu R$ 815 mil. Atualmente, a equipe recupera o Túnel da Conceição. Desde a entrega do primeiro viaduto, em setembro, dezenas de pichações foram feitas e removidas nesses locais.
- É uma luta diária do poder público manter a cidade limpa. Com a tinta antipichação, brigamos, no bom sentido, em igualdade de condições com os pichadores - comenta o diretor-geral do DMLU, Mário Moncks.
A utilização da tinta antipichação nos monumentos é avaliada pelo DMLU e pela Equipe de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Ephac), vinculada à Secretaria Municipal da Cultura. Há restrições para monumentos tombados, especialmente aqueles em que a superfície é porosa, como a base da estátua de Bento Gonçalves, na Praça Piratini. Incolor, a tinta formaria uma camada de proteção contra pichações.
- Onde for possível, vamos usar a tinta, mas não podemos na Ponte de Pedra (no Largo dos Açorianos) e no Viaduto Otávio Rocha (Avenida Borges de Medeiros) por não terem sido liberados - informa Moncks.
No Monumento ao Expedicionário, na Redenção, câmeras de monitoramento não conseguiram acabar com as pichações. As marcas estão visíveis apesar da vigilância ininterrupta.
O escudo antipichação
- Um aliado na luta contra a pichação é a tinta antipichação, que permite a limpeza da parede com água e sabão, sem que seja necessário uma nova pintura. O produto já é aplicado pela prefeitura de Porto Alegre, em um projeto que prevê a restauração de 12 viadutos
- Desenvolvida por uma empresa de São Paulo, a substância impede a aderência do spray na parede. A tinta levou dois anos para ser criada, e é inspirada na anatomia das plantas
- O químico Hildebrando Lucas explica como desenvolveu o material:
- Eu ficava intrigado porque as folhas das árvores ficavam sempre limpas, então comecei a estudar a estrutura da molécula das folhas, que tem uma espécie de estrutura autolimpante, e criamos uma tinta com uma estrutura molecular semelhante
- A estrutura é baseada em moléculas pontiagudas, que diminuem a área de contato entre a sujeira e a superfície. Nas tintas comuns, as moléculas são ovaladas e aumentam a adesão da sujeira
(Zero Hora, 01/05/2008)