Rio Grande seria a alternativa para a instalação de planta destinada a abastecer usinas e fábricas
Dois anos depois da nacionalização das reservas da Bolívia, em 1º de maio de 2006, o Brasil ainda não tem solução para o excesso de dependência do gás natural importado. Em construção, dois terminais para receber Gás Natural Liquefeito (GNL) ajudarão a suprir o mercado nacional, mas os benefícios ainda não chegam aos gaúchos.
O Rio Grande do Sul pode ser parte da solução para a escassez de gás, desde que uma terceira unidade seja implantada no Estado.
Em março, relata o presidente da Sulgás, Artur Lorentz, foram concluídos os estudos que sustentam a instalação do terceiro terminal no Estado, já encaminhados à diretoria da Petrobras. Rio Grande seria a alternativa preferencial, mas Tramandaí não está descartada, pela maior facilidade de acesso ao Gasoduto Brasil-Bolívia.
- Temos expectativa de definição até o fim do ano. Santa Catarina está na disputa, mas nós estamos em vantagem - afirma Lorentz.
Há controvérsias. A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) argumenta que o pólo cerâmico do Estado justifica a escolha.
- Se sair o terceiro terminal, não tenho dúvida de que será em Santa Catarina. Os gaudérios estão chegando atrasados, estamos há quatro ou cinco anos defendendo esse projeto.
Ideli é uma adversária difícil, reconhece Lorentz. A estratégia do Estado é usar argumentos técnicos:
- O estudo mostra tecnicamente que um terminal em Santa Catarina não resolve o problema do Rio Grande do Sul. Lógico que há a questão política, mas as pessoas encarregadas na Petrobras acusaram o cutuco e não gostaram muito disso.
Marco Tavares, da consultoria Gás Energy, explica que, instalado no Rio Grande do Sul, o terminal poderia abastecer o consumo gaúcho e, ainda, ser enviado ao Estado vizinho. Segundo Tavares, a ampliação do Gasbol até Canoas tem custo muito alto, porque atravessa a Serra. E, com a configuração atual, não consegue transportar mais gás por ter formato telescópico, isto é, vai afinando. O duto que entra no Brasil com 32 polegadas chega ao Paraná com 24 e ao Rio Grande do Sul com 16.
Desde outubro passado, quando os postos do Rio sem Gás Natural Veicular (GNV), o mercado anda em suspense.
O que é
- Uma planta de regaseificação transforma o Gás Natural Liquefeito (GNL) importado, transportado em navios, novamente para o estado gasoso, de forma que possa ser injetado na rede de gasodutos do país. Geralmente, são unidades de processamento montadas sobre navios. O gás é liquefeito para facilitar o transporte, normalmente feito por meio de gasodutos. Resfriado e sob pressão, o produto líquido pode ser embarcado e percorrer grandes distâncias sem a necessidade de dutos.
Para que serve
- O GNL será usado para garantir o funcionamento das usinas termelétricas a gás quando for necessário, como no início deste ano, quando a falta de chuvas reduziu o reservatório das hidrelétricas. Parte será destinada a indústrias.
Por que o Rio Grande do Sul
- No plano estratégico da Petrobras até 2012, é previsto o acréscimo de 31 milhões de metros cúbicos diários de GNL no país, para reduzir a dependência do gás da Bolívia.
- Mesmo com as duas unidades já em construção - em Pecém (no Ceará, foto acima), com 7 milhões de m3, e na Baía da Guanabara (RJ), com 14 milhões de m3 - ainda faltam 10 milhões de m3. Por isso, é necessário um terceiro terminal.
- A Petrobras já estudou a hipótese de instalar essa unidade também no Nordeste, mas a construção de um novo gasoduto na região, o Gasene (Gasoduto Sudeste-Nordeste) reduziu a necessidade local de novas fontes de abastecimento.
- O trecho Sul do Gasoduto Brasil-Bolívia está sendo ampliado, mas só até Araucária (PR), para garantir a operação de uma usina térmica no município.
- A falta de gás natural no Estado impede tanto a expansão da termelétrica Sepé Tiaraju - antes chamada de Termocanoas - quanto o funcionamento da AES Uruguaiana, que deveria ser abastecida por gás argentino.
(Por Marta Sfredo, Zero Hora, 01/05/2008)