"Assim que ficou concluída a obra da bacia de captação do DEP (Departamento de Esgotos Pluviais), construída no Parque Marinha do Brasil, os moradores dos bairros Menino Deus e Santa Tereza não tiveram mais sossego. A realização da obra previa captar a água da chuva oriunda das enxurradas que, seguidamente, inundavam as ruas e a Avenida Padre Cacique.
Entretanto, nuvens de mosquitos passaram a invadir, dia e noite, as residências nas proximidades. Pensar em um verão com janelas e portas abertas tornou-se impossível, pois os insetos atacavam até mesmo de dia. Com a chegada do outono e do inverno, também não davam trégua.
Em 2005, um grupo de moradores realizou um abaixo-assinado que foi encaminhado pela então presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Menino Deus (Assamed), Alzira Bán, ao Ministério Público. Provamos que a bacia não retinha apenas água pluvial, mas que continha vertentes de esgoto cloacal e, por isso, não poderia permanecer a céu aberto conforme havia sido construída. Deveria ser fechada com tampa, segundo normas técnicas da vigilância sanitária. Devido ao seu tamanho, passaria a ser então drenada, regularmente, por meio da captação de detritos e resíduos para evitar que se formassem focos de mosquito constantemente.
De lá para cá, algumas poucas vezes o serviço foi efetuado pelo DEP, que alegou ser de alto custo. Ao procurar o setor de zoonoses da prefeitura recentemente, ouvi daquela autarquia que o problema não era deles - que estavam muito ocupados com os procedimentos em relação ao mosquito da dengue - e sim do DEP. Quem nos atendeu na vigilância também nos disse que os moradores deveriam novamente se mobilizar contra a reincidência do problema dos mosquitos que aparentemente não causam a dengue.
Mosquito é mosquito e nós não moramos no meio do mato para nos sentirmos ameaçados pelos danosos insetos que, entre tantas outras doenças, podem sim transmitir a dengue. Acho graça uma campanha que gasta muito com material publicitário e equipes técnicas, que entram na casa da gente para olhar pratinhos de plantas e piscina tratada com cloro, não enxergar um palmo à frente do que possa estar acontecendo nos parques, principalmente no Marinha, que tem uma bacia de captação de água que não está devidamente regulamentada para funcionar desta maneira."
Contrapontos
O que diz o diretor-geral do DEP, Ernesto Teixeira
Encerramos a limpeza da bacia do Parque Marinha no dia 7 de abril. Removemos toneladas de resíduos. Estamos cumprindo o acordo feito com o Ministério Público e fazendo a limpeza, no mínimo, três vezes por ano. A última dragagem havia sido em novembro. As redes de esgotos têm separadores, mas há ligações clandestinas que despejam resíduos na bacia. Por isso, é preciso fazer a limpeza freqüente para evitar o mau-cheiro.
O que diz a Vigilância Sanitária
Bacias não são ambientes favoráveis à reprodução do Aedes aegypti. O mosquito transmissor da dengue se reproduz, preferencialmente, em pequenos recipientes e depósitos com água limpa e parada. Estivemos no Parque Marinha há poucos dias e não encontramos vestígios do mosquito. Temos orientado os funcionários dos parques a observarem essas questões, especialmente as poças dágua.
(Por Renilda Mansur de Castro*, Zero Hora, 01/05/2008)
*Moradora do Bairro Menino Deus de Porto Alegre