É brasileiro o primeiro plástico feito de cana de açúcar que chegará em nossas casas sob a forma de sacolas plásticas e de embalagens alimentícias. Essa inovação tecnológica além de absorver CO2 da atmosfera, ainda reduz a dependência de matérias-primas de origem fósseis para fabricação de produtos plásticos.
A empresa responsável pelo desenvolvimento do polímero (matéria prima para a fabricação de produtos plásticos) “verde” 100% renovável é a companhia petroquímica brasileira Braskem, que tem investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D para os íntimos) para ampliar sua participação nesse mercado.
Esses polímeros verdes (ou biopolímeros) são fabricados a partir do etanol da cana de açúcar. Com o etanol a Braskem produz eteno, com tecnologia própria, e a partir do eteno fabrica o polietileno. Como são semelhantes aos polímeros originados do petróleo, os polímeros verdes também não são biodegradáveis (i.e. degradáveis por ação de agentes biológicos), mas são totalmente recicláveis mecanicamente - conversão dos produtos plásticos em grânulos que podem ser utilizados para produção de outros produtos - ou energeticamente - combustão dos resíduos plásticos para obtenção de energia. A vantagem da incineração é que a queima de um quilo de polietileno (resina plástica, cuja maior aplicação encontra-se nas embalagens) produz a mesma energia que a queima da mesma quantidade de óleo diesel.
Para cada tonelada de polietileno verde produzido pela empresa, 2,5 toneladas de dióxido de carbono (CO2) são removidas da atmosfera, explica Antonio Morschbacker, responsável pela tecnologia dos polímeros verdes da Braskem. De acordo com o estudo elaborado pela empresa em conjunto com a Unicamp, o Centro de Tecnologia Canavieira e com a metodologia de análise de eco-eficiência da BASF, esse valor é resultado da diferença entre a quantidade que a cana absorve na fotossíntese (7,4 tCO2) e as emissões oriundas na produção do polietileno verde (4,9tCO2). Essa última conta considera a queima dos combustíveis fósseis no transporte para realização da colheita da cana de açúcar, a queima do bagaço para processar o etanol, a desidratação e por fim, a polimerização.
Morschbacker destaca que, ao contrário do polietileno verde, o polietileno obtido a partir do petróleo e até mesmo outros materiais de embalagem, como o papel, emitem CO2 ao longo de todo o seu ciclo de produção.
Em 2007, a empresa obteve o primeiro certificado mundial do polietileno verde idêntico aos originados do petróleo. O desenvolvimento de plásticos com as mesmas características da maioria dos plásticos atualmente utilizados e a sua certificação como produto 100% verde, rendeu à Braskem o prêmio Bioplastics Awards 2007, na categoria Best Innovation in Bioplastics. De acordo com esta premiação, essa nova rota tecnológica coloca a empresa na liderança da produção dos biopolímeros e, ainda, reforça a sua responsabilidade ambiental.
Atualmente, a empresa atende mais da metade do mercado nacional de resinas termoplásticas (modeladas quando amolecidas e recicláveis) fabricadas a partir do petróleo. O óleo bruto, ao passar pela refinaria, produz diversos derivados, dentre eles a nafta, que é destinada para a indústria petroquímica - responsável pela fabricação das resinas ou polímeros sintéticos. Esses materiais, em geral em forma de pequenos grânulos (pellets), são levados para a indústria de transformação, onde ocorre a manufatura dos produtos plásticos (embalagens, sacolas, brinquedos, peças de carro etc.) que são utilizados pelos consumidores industriais e residenciais.
O novo desafio da Braskem agora é instalar até 2010 uma unidade industrial com capacidade para fabricação anual de 200 mil toneladas de polímeros verdes.
Para atender essa demanda, não será preciso ampliar a área de cultivo da cana de açúcar. Antonio Morschbacker garante que não é necessário desmatar e nem roubar área destinada para produção de alimentos. Hoje a plantação de cana de açúcar é de aproximadamente 7 milhões de hectares, bem abaixo da área de pastagem e pecuária com 220 milhões de hectares, sendo que 50% são de áreas degradadas que poderiam ser direcionadas para o cultivo da cana. A produtividade da cana de açúcar cresce 2,5% ao ano no Brasil e produz 6.150 litros de etanol por hectare.
Apostar em fontes alternativas ao petróleo, principalmente renováveis, para fabricação de polietilenos que sejam não biodegradáveis está em consonância com a realidade brasileira de disposição final de resíduos sólidos urbanos em aterros e lixões. No Brasil, diante da falta de usinas de compostagem e da indisponibilidade de áreas para construção de novos aterros nos grandes centros urbanos, a reciclagem mecânica se apresenta como uma alternativa sócio-ambiental de destinação final dos resíduos plásticos, contribuindo para aumentar a vida útil dos aterros e agregar valor aos materiais descartados.
(Carbono Brasil, 01/05/2008)