A governadora paraense Ana Júlia protagonizou o primeiro dia de discussões da reunião promovida pelo príncipe Charles em sua residência, a Clarence House, em Londres. Provocadora, a petista chamou a atenção da seleta platéia de empresários, sociedade civil e diplomatas com um chamado para cooperação internacional visando o desenvolvimento da região: "Na época de nossos país era cedo demais, na época de nossos filhos será tarde", foi o bordão escolhido por ela para chamar investimentos e pagamentos por serviços para seu estado. Na mesma linha foram os governadores do Amapá, Waldez Góes, e de Roraima, José de Anchieta Junior. Este último, porém, surpreeendeu ao esquecer de mencionar os povos indígenas ao apresentar seu Estado. Chamados para investimentos foram realizados também pelos governos de Acre e Amazonas, presentes na reunião com amplas delegações de políticos.
Os convidados britânicos do príncipe mostraram certo ceticismo frente às oportunidades de investimento apresentadas, cobrando metas e questionando sobre os riscos de projetos que carecem de segurança fundiária e respaldo da sociedade. Mas não deixaram de elogiar a criatividade e o empenho de entidades da área social e ambiental. Já há um entendimento de que o diálogo vai continuar nos próximos meses no Brasil, numa segunda etapa.
O ex-governador acreano Jorge Viana elogiou iniciativa do deputado britânico Barry Gardiner visando promover responsabilização dos compradores de produtos originados por práticas questionáveis do ponto de vista socioambeintal: "vocês devem nos ajudar a promover as empresas sérias", defendeu.
O diretor de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi, pautou as necessidades de infra-estrutura para o desenvolvimento sustentável, em alternativa aos grandes projetos que visam atender públicos externos à região: saneamento básico, geração elétrica descentralizada e difusa, comunicação e infovias, povoamento científico-tecnológico da região e estruturas para visitação e turismo. O tema da comunicação foi também destacado pelo dep. Paulo Bornhausen (DEM-SC), pelo sen. Artur Virgílio (PSDB-AM) e por Rodrigo Baggio, da ONG CDI, especializada em inclusão digital. Já o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, apresentou uma visão oficial menos afinada com a prioridade na sustentabilidade, focando apenas na necessidade de o Brasil licitar, antes de 2010, três mega-projetos hidrelétricos: além do complexo do Rio Madeira, as usinas de Belo Monte e São Luís do Tapajós: "vamos fazer isso de uma maneira diferente do passado, sem impactos", surpreendeu.
A escassa participação do governo federal chegou a ser questionada por vários participantes, apesar de que o convite do príncipe não tenha tido natureza oficial, como ele mesmo ressaltou. O embaixador brasileiro no Reino Unido e aquele britânico no Brasil acompanharam toda a reunião, porém sem se manifestar sobre a possibilidade de que o príncipe levante investimentos para pagar serviços ambientais das florestas brasileiras.
(Amazonia.org.br, 30/04/2008)