Com os olhos abertos pelos problemas causados aos moradores da Grande Vitória pelas usinas da Vale, ArcelorMittal Tubarão e Belgo, os moradores do sul do Estado exigem discutir com as autoridades locais os impactos dos projetos programados para a região. Em assembléia defenderam "a geração de empregos, com qualidade de vida, para uma sociedade sustentável".
Nesta terça-feira (29), a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) no Espírito Santo, responsável pela assembléia popular realizada no último sábado, divulgou a Carta de Anchieta, que sintetiza as discussões. A mobilização local para a assembléia foi realizada pelo Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama) e pelo Programa de Apoio e Interação Ambiental (Progaia), ONGs de Anchieta.
A assembléia popular discutiu o tema "Os grandes projetos industriais e seu impactos no desenvolvimento e na qualidade de vida". Nela, foram feitas "considerações e reflexões acerca dos projetos de transformação do município de Anchieta (e região) em um pólo industrial siderúrgico".
Lembram os organizadores que "é indispensável que um projeto de tamanho impacto social e ambiental seja amplamente debatido, de forma democrática e transparente com a sociedade civil organizada e seus respectivos segmentos, no sentido de alertá-la sobre a série de mudanças em seu modo de vida e interação social que tal projeto desencadeará".
E que "qualquer implantação de planta siderúrgica ou outro projeto industrial deve ser submetida a uma rigorosa fiscalização, com participação popular, e a rigorosos estudos de impacto ambiental, inclusive com projeção do grau de poluição ambiental que será lançado".
Segue alertando que "um projeto da magnitude do pretendido envolve uma inevitável previsão de explosão populacional (já que há previsão de geração de 21,5 mil empregos). Tal crescimento demográfico deve, necessariamente, ser precedido de um minucioso planejamento que vise a garantir a oferta de serviços públicos essenciais eficientes (água, esgoto, saúde, educação, segurança, etc). Não custa lembrar que o município de Anchieta conta hoje com uma população de 23 mil habitantes (praticamente o mesmo número dos postos de trabalho previstos)".
Os moradores indagam se "há projetos de absorção privilegiada para a mão de obra local como forma de se impedir uma explosão populacional que não seja benéfica para a região? Se há esses projetos levam em conta a necessidade de qualificação e requalificação da mão de obra local?".
As organizações querem saber ainda se "no caso de conclusão das obras de construção da siderúrgica, para o período imediatamente posterior, há projetos de geração de emprego para os trabalhadores que perderão seus postos de trabalho? Ou eles se tornarão desempregados, já habitantes da região a constituir bolsões de miséria, tal como aconteceu na Grande Vitória após o fim do período de construção de grandes projetos industriais, como Vale e CST?".
Perguntam se "as autoridades constituídas já tomaram consciência de que os 18,5 mil empregados para a construção da siderúrgica, inevitavelmente trarão suas famílias para a região, aumentando a demanda por serviços públicos essenciais?".
E, "quais os instrumentos e projetos de Responsabilidade Social Empresarial que serão implementados pelas empresas que, direta e indiretamente, atuarão na região nos próximos 20 anos?".
Para concluir: "Tais reflexões são de fundamental importância para se planejar a sustentabilidade de um projeto tão grande. Por isso os movimentos sociais esclarecem à população sobre a necessidade de um profundo diálogo com as autoridades locais acerca deste projeto e de seus impactos nas vidas dos moradores da região. A importância deste diálogo reside justamente no fato de se ter em mente que a Grande Vitória já viveu experiência semelhante e que hoje ela figura com uma das mais desiguais e violentas do país, devido principalmente, à falta de um planejamento que leve em consideração o interesse da sociedade. Defendemos a geração de empregos, com qualidade de vida, para uma sociedade sustentável. E acreditamos ser também esse o interesse de toda a sociedade. No entanto, não podemos nos omitir diante da necessária reflexão sobre os impactos que as obras pretendidas terão sobre o meio ambiente e as vidas dos moradores de Anchieta e região".
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 30/04/2008)