O senador Neuto de Conto (PMDB-SC) afirmou nesta terça-feira (29/04) que são "injustificáveis" as manifestações internacionais contra a produção de biocombustíveis - tais manifestações responsabilizam essa atividade pelo aumento nos preços mundiais dos alimentos. De acordo com o senador, que é presidente da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), a agroenergia não compete com a segurança alimentar no Brasil. Ele fez essas declarações durante debate realizado na Câmara dos Deputados ao qual estiveram presentes integrantes da Comissão de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu.
Com a crise global na oferta de alimentos, várias autoridades internacionais vêm criticando a produção de etanol, argumentando que sua expansão leva à redução do cultivo de alimentos. Recentemente, o diretor do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Khan, disse que a escassez de alimentos iria intensificar-se e que, por isso, a produção de biocombustíveis representaria um problema moral.
Na segunda-feira (28/04), o relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, pediu a suspensão da produção de etanol para que se privilegie o cultivo de alimentos. Atualmente, os Estados Unidos, que produzem etanol a partir do milho, são os maiores produtores mundiais. E o Brasil, cuja produção deriva da cana-de-açúcar, é o segundo maior produtor.
Em contraste com essas críticas, Neuto de Conto argumentou que o Brasil possui área suficiente para expandir tanto o cultivo agrícola destinado à produção de alimentos como também aquele destinado à geração de etanol. Ele avalia que o país possa explorar, além das terras que já são utilizadas para a agricultura, pelo menos outros 90 milhões de hectares "sem que o meio ambiente seja agredido" - parte dessas terras adicionais seriam formadas por áreas de pastagens degradadas.
De acordo com o senador, o plantio de cana-de-açúcar ocupa sete milhões de hectares - o que equivaleria a 2% da área utilizada no Brasil para a agropecuária -, sendo metade destinada à produção de açúcar e a outra metade, à produção de etanol (ou seja, 1% dessa área).
Ao tratar das condições do comércio internacional de alimentos, Neuto de Conto lembrou ainda que Europa e Estados Unidos concedem subsídios aos produtores rurais, que, segundo ele, seriam de cerca de 75% no caso do açúcar europeu e de 35% no caso do milho norte-americano. O senador declarou que, apesar de os subsídios "constituírem um direito e uma forma de proteção [aos europeus], inibem a produção e o mercado [brasileiros]".
(Por Ricardo Koiti Koshimizu, Agência Senado, 29/04/2008)