O encontro de autoridades da Amazônia que será realizado na residência do príncipe (Clarence House, Palácio Saint James) discutirá temas como Agricultura e Meio Ambiente, Infra-Estrutura, Finanças e Saúde e Educação. Cada painel será apresentado por um governador ou seu representante. Estão confirmadas as presenças dos governadores Ana Júlia Carepa (PT/PA), Waldez Góes (PDT/AP) e José de Anchieta Júnior (PSDB/RR). O Acre e o Amazonas estão representados pelos senadores Tião Viana (PT) e Arthur Virgílio (PSDB), respectivamente.
De acordo com o organizador do evento, Jorge Pinheiro Machado, o príncipe Charles, que no final do ano passado criou uma instituição voltada para a proteção das florestas tropicais do mundo (Rain Forest Forest), se propõe a ser um interlocutor entre as personalidades brasileiras envolvidas nas questões amazônicas e lideranças britânicas interessadas na proteção da maior floresta tropical do planeta.
Segundo Machado, o Príncipe Charles quer promover a aproximação entre as vozes das regiões detentoras de florestas nativas e o mundo, que precisa desses remanescentes, no sentido de remunerar os serviços ambientais que as florestas prestam à humanidade. Por isso, um dos itens do debate propõe a melhoria da qualidade de vida dos povos da floresta, para que eles se transformem em seus guardiões.
Levantamentos feitos por Machado apontam que a comunidade britânica estaria disposta a desembolsar cerca de 10 bilhões de libras esterlinas (mais de R$ 50 bilhões) para remunerar os serviços ambientais prestados pelas florestas.
Os brasileiros pretendem captar algo em torno de 5 bilhões de libras para a Amazônia (R$ 25 bilhões). Os dirigentes da Amazônia, no entanto, exigem que o aporte financie a inclusão social da população local. A Amazônia concentra perto de 25 milhões de habitantes e possui 60% do território brasileiro. Os governantes são categóricos: não há como defender apenas a conservação da floresta sem incluir sua população.
O grupo pretende discutir formas de captar esses recursos, seja por meio do pagamento de bolsas-florestas, pelo aporte direto aos fundos estaduais de meio ambiente ou em projetos específicos. Outros mecanismos de financiamento também serão discutidos pelo grupo durante o evento.
A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, considera que o desafio da Amazônia envolve não só a conservação como também a valorização da floresta. A Amazônia constitui-se em imenso um território protegido em unidades de conservação, aponta Ana Júlia. São mais de 100 milhões de hectares entre terras indígenas, Territórios de Comunidades Tradicionais e outras categorias destinadas à conservação e à promoção do uso sustentável dos recursos naturais.
"A efetiva proteção desses territórios só será possível se formos capazes de promover a valorização dos produtos oriundos dessas áreas e dos serviços ambientais providos por esses ambientes protegidos", enfatiza a governadora, que lidera um movimento nacional pelo pagamento dos serviços ambientais prestados pela floresta.
O Pará, o segundo maior Estado da Amazônia, com 1,2 milhão de km² e 7,1 milhões de habitantes é pressionado pela expansão econômica que visa, sobretudo os recursos naturais, em atividades que envolvem intensa ocupação, conflitos e uma indústria de grilagem de terras que fomenta toda forma de ilegalidade ambiental e fundiária.
Fórum de governadoresO governador do Amapá, Waldez Góes, lidera outro movimento importante: a integração dos governadores e das bancadas amazônidas na defesa de seus interesses. Góes está propondo a criação do Fórum de Governadores da Amazônia, com a integração de toda a Amazônia Legal, que reúne nove governadores e 27 senadores, além de uma expressiva bancada de deputados federais.
Para Góes, a união de governadores que o evento em Londres promove já é um ganho, pois embora cada um pretenda demonstrar seus desafios locais, todos atuam no sentido de sensibilizar a comunidade internacional na busca de parcerias que resultem em benefício regional. O governador defende que os aportes financeiros sejam feitos diretamente aos governos locais, estes por sua vez fariam a interlocução com os demais segmentos da sociedade.
Com uma área de 14,4 mil km², o Amapá possui uma cobertura vegetal perto de 98%, sendo que 72% de suas áreas estão protegidas na forma de Unidades de Conservação e Terra Indígena. Para Góes, o desafio da Amazônia exige uma equação diferenciada, que não consta, por exemplo, do Protocolo de Kyoto, que prevê o financiamento apenas para o reflorestamento e não a manutenção da floresta.
(Folha de Boa Vista,
Amazonia.org.br, 29/04/2008)