As usinas de cogeração de energia elétrica a partir de bagaço da cana de açúcar, hoje usadas essencialmente para consumo energético próprio no Brasil, têm potencial para ocupar um papel central no setor sucroalcooleiro, podendo integrar-se inclusive a outras fontes limpas.
Isto é o que sugere o professor do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH-USP), Sérgio Pacca, pós-doutor em Recursos Naturais pela Universidade de Michigan (EUA) e doutor em Recursos Energéticos pela Universidade da Califórnia (EUA).
Pacca acredita que um sexto da eletricidade do país virá de biomassa em 2020. “O setor, ao invés de ter só um produto, o álcool, terá também a eletricidade. Assim, as usinas serão vistas como produtoras de energia e não somente de combustível”, afirma.
A produção de cana de açúcar vem crescendo em média 5,3% ao ano desde a década de 70. Segundo o professor, se feita uma média somente dos últimos anos, o percentual fica ainda maior. “Eu espero que chegue a um bilhão de toneladas de cana de açúcar em 2020”, comenta.
O aproveitamento do bagaço para a produção de energia, no entanto, só começou a ser explorado há poucos anos. “A 10 ou 15 anos atrás não explorávamos o setor sucroalcooleiro”, diz Pacca.
Entre 2005 e 2006, o setor produziu 9,2 quilowatts hora por tonelada de cana (kWh/tc). Porém para 2020, a projeção do professor é que o total passe para 135 kWh/tc, um crescimento de 1470% em quinze anos.
Hoje, a capacidade instalada de cogeração de bagaço da cana de açúcar no Brasil é de 2.800 MW. No entanto, 78% deste total é utilizado para o consumo próprio e apenas 22% é comercializado, um mercado que pode ser expandido.
Para o professor, algumas maneiras de promover o crescimento da produção de energia elétrica a partir da biomassa são, por exemplo, aumentar a produtividade, a eficiência das turbinas a vapor e o aproveitamento do uso da palha. As folhas, difíceis de serem coletadas, representam 40% do que é deixado no campo.
Uma tonelada de cana possui 7,3 mil megajoule (MJ) de energia, distribuídos no açúcar (2,3 mil MJ), no bagaço (2,5 mil MJ) e na palha (2,5 mil MJ). “Há muita energia, mas não estamos usando todo o potencial da palha e do bagaço”, afirma.
Pacca sugere também aumentar o uso da usina para produzir eletricidade extra no período em que não há safra. Além disso, o pesquisador diz que o Brasil pode seguir práticas já adotadas nos Estados Unidos de integração da bioeletricidade (geração energética a partir de biomassa) com outras fontes renováveis, principalmente no Nordeste. “À medida que a usina cogeradora vai se tornando uma usina energética, você vai integrando e podendo inclusive ganhar créditos de carbono com isso”, explica.
(Carbono Brasil, 28/04/2008)