Implantação de um corredor ecológico de 270 mil hectares está em discussão nos Campos de Cima da Serra
Projeto prevê criação de área de preservação no Rio Pelotas que atinge 14 municípios do RS e de SC
Bom Jesus - A comunidade dos Campos de Cima da Serra está reunida desde ontem (28) para discutir, em consultas públicas, a implantação de um refúgio de vida silvestre na região, também chamado de corredor ecológico.
A proposta visa proteger o ambiente e assegurar condições para existência ou reprodução de espécies da flora local e da fauna residente ou migratória.
O espaço de preservação teria área de 270 mil hectares (cerca de 36 mil campos de futebol) e abrangeria terras de 14 municípios do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A criação do refúgio faz parte de um termo de ajustamento de conduta feito em 2004 para dar continuidade, na época, ao licenciamento ambiental da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, no Rio Pelotas, entre os municípios de Anita Garibaldi (SC) e Pinhal da Serra (RS). A usina está em funcionamento pleno há praticamente dois anos.
Ontem, prefeitos e moradores estiveram reunidos em Bom Jesus para conhecer o projeto. O diretor do departamento de áreas protegidas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João de Deus Medeiros - que também estava presente - , explica que o ambiente a ser preservado é formado por campos de altitude e floresta de araucárias, bem como aves e mamíferos típicos.
- A área com as porções da floresta ombrófila (de araucária) e dos campos de altitude vai garantir também a preservação de animais maiores como o puma, por exemplo, a longo prazo - ilustra Medeiros, destacando que os estudos do MMA para a implantação do corredor iniciaram em 2006.
A expectativa dele é de que dentro de dois meses o projeto retorne à análise técnica e seja encaminhado à Presidência da República para aprovação.
O deputado estadual Francisco Appio (PP) acompanhou a primeira audiência e relatou que uma das principais preocupações das autoridades das cidades atingidas é uma possível desaceleração no crescimento. A produção agrícola da região abrange as culturas de soja, milho e maçã e pecuária extensiva - pelo projeto do MMA, seriam cerca de 5,5 mil hectares utilizados pelo setor primário.
- O pessoal está preocupado porque o projeto vai determinar que a região não vai mais crescer, vai enterrar a região em empobrecimento - alerta o parlamentar.
Medeiros explica, entretanto, que o projeto pretende garantir a coexistência da atividade econômica e da preservação do ambiente:
- O refúgio de vida silvestre é mais flexível que um parque, por exemplo, porque, além da visitação pública, admite a manutenção das propriedades privadas mesmo com a preservação, além de criar um cenário positivo favorável para o desenvolvimento sustentável da região.
Saiba mais
- O que é: o corredor ecológico é uma unidade de conservação que possibilita o fluxo de espécies, facilitando a dispersão e a colonização de áreas degradadas e manutenção de populações que precisam de áreas com extensão maior para a sobrevivência
- O que vai preservar: florestas de araucária e campos de altitude (estepes)
- Área: 270 mil hectares (cerca de 36 mil campos de futebol) na calha do Rio Pelotas
Municípios atingidos
- Rio Grande do Sul: Bom Jesus, Cambará do Sul, São José dos Ausentes e Vacaria
- Santa Catarina: Bom Jardim da Serra, Capão Alto, Jacinto Machado, Lages, Lauro Müller, Morro Grande, Orleans, São Joaquim, Timbé do Sul e Treviso
Participe
Confira as datas das audiências públicas:
- Onde: São José dos Ausentes
- Quando: hoje, às 19h
- Local: sede social do CTG Rodeio da Saudade
- Onde: Lages (SC)
- Quando: amanhã, às 19h
- Local: auditório do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina
- Onde: Timbé do Sul (SC)
- Quando: sexta-feira, às 19h
- Local: no salão paroquial da Igreja Matriz
Primeira audiência
Até as 21h de ontem, centenas de pessoas acompanhavam a apresentação do projeto e manifestações da população na audiência de Bom Jesus, segundo o prefeito do município, José Paulo de Almeida. Amanhã, o Pioneiro apresentará mais detalhes da proposta do governo federal e a polêmica nas cidades.
(Por Juliana Almeida, Pioneiro, 29/04/2008)