Em debate com quatro parlamentares alemães, nesta segunda-feira (28/04), o presidente da Subcomissão Permanente dos Bicombustíveis, senador João Tenório (PSDB-AL), afirmou que o aumento dos preços dos alimentos no mundo não foi provocado pela produção de matérias-primas para a produção de biocombustível.
João Tenório sustentou que o cultivo de cana-de-açúcar para a produção de etanol não é uma ameaça ao bioma amazônico, pois o clima dessa região não é apropriado a essa cultura. Para proteger esse bioma da expansão agrícola, porém, o parlamentar recomenda a realização de zoneamento agrícola.
Ao responder a pergunta do deputado Heinz Schmitt, do Partido Social Democrata (SPD) alemão, João Tenório afirmou que o Brasil poderá, no futuro, adotar um "Selo Ecológico" para seus biocombustíveis . Segundo acrescentou, essa certificação ecológica poderá resolver as dúvidas da opinião pública mundial em relação aos efeitos da produção de biocombustíveis sobre o meio ambiente.
Já o deputado Lutz Heilmann, membro do Linke (partido de esquerda) e da comissão de meio ambiente do Parlamento alemão, informou que os efeitos dos biocombustíveis sobre a natureza e as condições de trabalho no setor são os seus temas de interesse nesta missão ao Brasil.
Na ocasião, João Tenório adiantou que apenas 1% das terras agricultáveis do país - ou 3,8 milhões dos quase 400 milhões de hectares disponíveis para esse fim - é empregado no plantio de cana-de-açúcar para produção de etanol. Isso reforçaria o argumento de que, de modo algum, a indústria de biocombustíveis representaria uma ameaça à produção de alimentos.
- Além disso, a recente expansão da cana-de-açúcar ocorre em solos relativamente pobres ( pastagens ou cerrados ), para os quais esse cultivo contribui para sua recuperação, com a adição de fertilizantes e matéria orgânica - observou o senador.
O deputado Jens Koeppen, membro da União Democrata Cristã (CDU), indagou se os pequenos produtores e trabalhadores se beneficiaram dos efeitos econômicos decorrentes do aumento na produção de matérias-primas para os biocombustíveis.
- Gostaria de saber sobre os efeitos sociais dessa evolução da agricultura. Gostaríamos de sair daqui com a imagem mais abrangente possível sobre se os benefícios trazidos pelos biocombustíveis foram auferidos por muitos ou por poucos - explicou.
João Tenório respondeu que a produção de álcool no Brasil ocupa hoje mais de um milhão de pessoas. No entanto, o representante por Alagoas admitiu não ser possível afirmar que a remuneração dos trabalhadores do setor é extremamente favorável e confortável. De qualquer modo, assegurou que, "da agricultura brasileira em geral, o trabalhador mais bem assistido é o trabalhador canavieiro.
- A grande quantidade de mão-de-obra que o setor precisa faz com que não haja outra maneira de conseguir essa mão-de-obra que não seja oferecendo remuneração e condições assistenciais adequadas para que se possa atrair esse trabalhador - disse João Tenório.
Mais dois parlamentares formaram a delegação da Alemanha em visita ao Senado: as deputadas Christel Happach-Kasan, membro do Partido Democrata Liberal (FDP), e Undine Kurth, membro da Aliança 90/Os Verdes. Ambas manifestaram satisfação com o fato de o etanol ocupar apenas 1% das terras agricultáveis no Brasil e com a produtividade desse setor.
(Por Geraldo Sobreira, Agência Senado, 28/04/2008)