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passivos dos biocombustíveis segurança alimentar
2008-04-29

O senador João Tenório (PSDB-AL) classifica como grave equívoco a tentativa de parte da opinião pública mundial de explicar a crise global na oferta de alimentos como resultado do crescimento da produção de biocombustíveis  nos países menos desenvolvidos. Em discurso na tribuna, nesta segunda-feira (28/04), ele disse considerar positiva a pressão sobre os governantes de todo o mundo para que ajam contra os riscos sociais e políticos da escassez de alimentos, mas observou que nada garante que os líderes irão escolher as melhores políticas. Ele disse, ainda, que as opções podem ser prejudiciais aos interesses de longo prazo do Brasil.

- Pressionados a responder com rapidez à elevação dos preços no mercado mundial, os governos dos países mais ricos podem optar pelo aumento da proteção comercial e dos subsídios à produção local de alimentos - alertou.

Para João Tenório, a adoção de uma agenda baseada no conceito vago de segurança alimentar será um erro grave. Segundo ele, essa linha irá atrasar a solução adequada e definitiva para o problema da oferta de alimentos no mundo. Além do mais, acredita, esse tipo de encaminhamento prejudicará o Brasil e os países pobres e em desenvolvimento que estão se destacando como produtores mais eficientes de produtos agrícolas.

- Esse é um argumento simplista e falacioso, e o governo brasileiro precisa enfrentá-lo com muito empenho e com informações precisas e adequadas. Temos a responsabilidade de indicar ao mundo as verdadeiras causas da inflação mundial de alimentos e podemos oferecer soluções eficientes e sustentáveis - afirmou.

O senador centrou sua crítica no protecionismo, em sua avaliação responsável por efeitos devastadores sobre a estrutura econômica dos países pobres e em desenvolvimento. Para ele, a opinião pública mundial precisa ser convencida de que a União Européia, os Estados Unidos e o Japão são também responsáveis pela crise atual de alimentos por causa dos subsídios.

Ataque

Sua sugestão é de que o argumento sobre a responsabilidade desses países - já usado pelo governo brasileiro para destravar a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio, e forçar a abertura do setor agrícola mundial - deve ser reforçado neste momento, como parte da estratégia para explicar a crise de alimentos.Dessa maneira, ele acredita que será possível "deslegitimar eventuais recaídas protecionistas dos países ricos sob a velha justificativa da segurança alimentar".

Em sua opinião, outro desestímulo aos países com melhor potencial de produção é gerado por novas regras ambientais que restringem a expansão de suas fronteiras agrícolas. Uma terceira fonte de problemas, como afirmou, emerge de regras trabalhistas impostas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Nesse caso, ele diz que, por serem inadequadas para países pobres e em desenvolvimento, essas regras acabam prejudicando a capacidade de competição global dessas nações.

Entre fatores conjunturais da crise, João Tenório apontou o acelerado crescimento econômico em países pobres ou em desenvolvimento, como China e Índia, acompanhado de forte elevação no consumo de alimentos. Conforme análise do senador, entre os fatores mais importantes destaca-se também a alta no preço do barril de petróleo, já acima dos 110 dólares desde a semana passada.

- O petróleo caro eleva os preços dos fertilizantes e do frete internacional que, por sua vez, encarecem os custos de produzir e exportar alimentos - salientou.

Citando dados divulgados pela jornalista Míriam Leitão, em sua coluna no jornal O Globo, de 17 de abril, o senador lembrou que, nos últimos dois anos, o trigo ficou 227% mais caro. No caso da soja, o aumento acumulado no mesmo período foi de 132%, enquanto o preço do arroz subiu 100% só em 2008.

João Tenório afirmou que o tema dos biocombustíveis é um dos mais relevantes da economia política internacional da última década e vai manter-se por muito tempo no topo da agenda internacional. Segundo ele, há muitas razões para o mundo reduzir a dependência por petróleo e investir no biocombustível, entre elas a necessidade de redução do atual nível de emissões carbono na atmosfera e a incontornável tendência de alta do preço do petróleo, que impacta a estrutura de custos de praticamente todos os setores econômicos.

- É nesses termos que o mundo, e o Brasil em particular, têm que discutir a conveniência de se elevar a produção de biocombustíveis - defendeu.

(Por Gorette Brandão, Agência Senado, 28/04/2008)


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