De 27 a 1º de abril, um encontro em Cuenca, Equador, reuniu mulheres assumiram a liderança de diversas lutas em seus respectivos países. A questão mineira, cada vez mais presente nos países da América Latina, foi um dos assuntos mais debatidos. A Adital conversou com Angelita Loja, da província de Azuay, presidente da Frente de Mulheres em Defesa da Pachamama, que integra a Coordenadoria Nacional da Defesa da Vida e da Soberania. Aqui ela falou sobre o encontro e como as comunidades equatorianas já começam a ser afetadas pela exploração de minérios.
Adital - Que avaliação fazem do encontro de lideranças?
Angelita Loja - Uma avaliação positiva porque esse evento nos ajudou em muitos aspectos. Nos ajudou a compreender melhor a realidade de outros países como a Guatemala, a Venezuela, o Peru e a Bolívia, onde estão sentindo os efeitos desastrosos da mineração, e isso fortaleceu nossa convicção de não deixar que o Equador seja um país mineiro. Ajudou nos a conhecer a outras lutadoras que, assim como nós, em seus países, estão enfrentando com valentia o problema, apesar de que são perseguidas, processadas e atacadas por seus governos e empresas.
A presença das delegações nos permitiu que pudessem ir a nossas comunidades e falassem com as pessoas, para dize-las o quão grave é a mineração em seus países. Também nos ajudaram a enviar uma mensagem para a cidade de Cuenca de que as mulheres estamos em pé de luta para defender a água que para nós é mais valiosa que qualquer mineral porque somos trabalhadores do campo, que cultivamos a terra, que colhemos produtos que alimentam as pessoas da cidade. Victoria del Portete abastece de leite a cidade de Cuenca e assim a maioria da população dessa cidade permanece indiferente ante nossa luta. Então escutar a voz de outras mulheres ajuda a sensibilizar as pessoas da cidade.
Adital - Nesse contexto, como as mulheres são afetadas pela mineração?
Angelita Loja - Em nosso caso, há, em primeiro lugar, que dizer que ainda não temos mineração em grande escala. Estamos lutando para que não haja porque já vemos em outros países o terrível que é para as mulheres, pois perderíamos nossas fontes tradicionais de subsistência, ou seja, nós como somos camponesas cultivamos pequenas parcelas, milho, feijão, legumes e outros produtos. Também temos nossas vaquinhas que tiramos leite e vendemos para Cuenca, com o pequeno lucro dessas vendas no mercado de Cuenca, ajudamos à economia de nossas famílias. Mas se a água for contaminada em Quimsacocha, todo nosso vale será afetado.
Mas não só quando a mineração chegar teremos problemas. Agora, já os temos e são graves. Inclusive temos problemas de saúde pelo permanente estresse a que somos submetidas pelos conflitos diários em nossas comunidades. Além disso, estamos enfrentando a criminalização de nossa luta e a repressão. Quando os policiais vieram nos reprimir nas paralisações que fizemos não viram que somos mulheres, que somos anciãs, nada, assim como aos homens nos agrediram, nos lançaram gases, nos bateram, nos insultaram de todas as maneiras e até ofenderam nossa dignidade de mulheres.
Adital - Qual é o objetivo da Frente de Mulheres Defensoras de Pachamama?
Angelita Loja - É ter um espaço próprio para as mulheres para nos educar, para nos apoiar e nos proteger entre nós, para expressar-nos, para compartilhar com outras mulheres de outras comunidades do país que estamos juntas na Coordenação Nacional pela Defesa da Vida e da Soberania. Queremos capacitar-nos e participar mais ativamente dentro da liderança e da tomada de decisões.
Adital - Quais serão os próximos passos da Frente?
Angelita Loja - Já iniciamos um processo de capacitação com oficinas de liderança que desenvolvemos em distintas comunidades. Vamos continuar com isso porque necessitamos nos educar para adquirir habilidades e capacidades para exercer nossa liderança. Também vamos continuar participando ativamente de todas as ações previstas por nossa organização que nos resguarda que é a Coordenação Nacional pela Defesa da Vida e da Soberania. Também estamos planejando participar da Cúpula dos Povos que será realizada em Lima, Peru, no próximo mês de maio. Esperamos poder fazê-lo. Queremos reproduzir material que temos feito com base em nossa luta e difundi-lo. Temos dois vídeos de nossas lutas como mulheres contra a mineração. Um é um pequeno vídeo clip que se chama "Warmi", (mulher em quíchua), e o outro fizemos para o Encontro de Lideranças que se chama "Defensoras da Pachamama".
(Adital, 28/04/2008)