O assassinato do agricultor Emival Machado, na última quinta-feira, trouxe à tona uma realidade nefasta da região do lago da Hidrelétrica de Tucuruí: a pistolagem. Na região dos sete municípios do lago de Tucuruí, 12 líderes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Via Campesina e Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar (Fetraf) estão na "lista negra" do crime organizado e podem ser assassinados a qualquer momento. Emival, que denunciou o tráfico de madeira em Tucuruí, foi o oitavo a morrer na região em quatro meses.
Segundo Genivaldo Ara-újo, coordenador regional da Fetraf, a violência no campo em todo o Pará é uma realidade sem solução e, em todo o Estado, 35 lideres estão sob ameaça de morte. Desses, 10 encontram-se fora do Pará sob proteção da Polícia Federal.
Em Tucuruí, somente este ano já foram assassinados oito trabalhadores rurais ligados aos movimentos sociais na região do lago da hidrelétrica. Os maiores índices estão concentrados nos municípios de Novo Repartimento, Pacajá e Tucuruí. Todos os que estão marcados para morrer pertencem aos movimentos sociais e são alvo de madeireiros e pecuaristas.
A maioria dos ameaçados, segundo Genivaldo, denunciou práticas de trabalho escravo ou participou de invasões de terras na região. Ele mesmo está sendo ameaçado de morte por grandes produtores e agropecuaristas da região. No entanto, não identificou ninguém. "Solicitamos segurança para as famílias no campo, mas há muita falha porque não há como as polícias darem segurança 24 horas para essas lideranças. No fim, a maioria acaba assassinada ou foragida como se fossem bandidos, o que não somos", declarou.
As constantes reivindicações de revisão dos projetos de manejo nas áreas de 42 associações nos municípios de Pacajá, Novo Repartimento, Breu Branco, Goianésia do Pará, Itupiranga e Tucuruí, também fazem parte da lista de motivos das ameaças.
Genivaldo alerta para uma nova onda de migração do campo para a cidade na região de Tucuruí por conta de conflitos agrários. Para ele, a região se torna um verdadeiro caldeirão e um "êxodo" irá piorar a situação social nas cidades da região do lago. "A maioria dos pequenos agricultores tem medo de falar e a primeira providência é migrar para escapar da pistolagem", afirmou.
Segundo fonte ligada ao MST em Tucuruí, ocorreram cinco assassinatos no ano passado. Nenhum foi solucionado até hoje. Agricultores e lideranças assentadas nas áreas Bom Jesus, Ladário, Garimpeira, Sol Nascente e Martins, todas em Tucuruí, estão de alguma forma ameaçadas e temem o mesmo fim do agricultor Emival. Todas as áreas de assentamento na região são exploradas por madeireiros, a maioria clandestinos.
(Diário do Pará,
Amazonia.org.br, 28/04/2008)