A experiência de pequenos agricultores do Sul gaúcho mostra que a mamona pode produzir biodiesel sem comprometer a independência das famílias e a variedade na alimentação camponesa. A organização não-governamental Repórter Brasil divulgou estudo na quinta-feira (24/04) em que apresenta a produção da oleaginosa no Estado como um bom exemplo no setor dos agrocombustíveis.
O projeto dos pequenos agricultores está ligado à União das Associações Comunitárias da cidade de Canguçu (UNAIC). A associação, que atua em sistema cooperativado, fornece as sementes para os associados e compra a mamona a um preço bastante vantajoso. Depois, revende para empresas de biodiesel que também são ligadas a pequenos produtores da região.
Além de participar de todas as fases da produção e comercialização, os agricultores têm independência para negociar preços. Outra vantagem, aponta a integrante do Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da ONG, Verena Glass, é que o projeto da UNAIC visa a produção de energia para o próprio agricultor e não simplesmente a obtenção da matéria-prima. Além disso, a produção da oleaginosa não substitui a de alimentos e sim é agregada à pequena propriedade.
"O que isso significa: A UNAIC tem um trabalho muito forte na região com agricultura familiar, na perspectiva da agroecologia e da educação. E esse trabalho que estão fazendo com a mamona tem um aspecto muito interessante que é voltado para a segurança energética, para soberania energética dos agricultores, do que para a produção de matéria-prima. Ou seja, estão agora com um projeto de fazer uma pequena usina para que o agricultor utilize na própria propriedade, deixando-o livre dos combustíveis fósseis e o excedente poderá ser vendido", diz.
O sistema produtivo dos agricultores da região Sul se diferencia bastante do sistema já implementado por empresas maiores, como a Brasil Ecodiesel. Verena explica que no Nordeste, principal região produtora da mamona, os agricultores estão insatisfeitos com o consórcio que possuem com a empresa. "Porque se você pega a relação que as grandes empresas têm com os agricultores, principalmente a situação que a Brasil Ecodiesel instalou em outras regiões do país, como o Nordeste, por exemplo, eles fazem um tipo de contrato que amarra o pequeno agricultor à empresa em termos de empresa, de produção, de assistência técnica. E o que a gente viu, principalmente no Ceará, é que a empresa não cumpre os seus contratos. Em alguns lugares a assistência técnica não veio, em locais que deu pouca produção a Brasil Ecodiesel simplesmente não foi buscar a produção e nem pagou os agricultores. Uma família chegou a plantar 9 hectares e ganhou apenas R$ 150,00 pela produção. No Sul, visitamos uma família que chegou a tirar R$ 750,00", relata.
De acordo com dados da Emater, o Rio Grande do Sul possui hoje seis mil hectares de mamona. Além de a produção ser pequena, Verena aponta que a oleaginosa ainda não é um produto do agronegócio, o que permite que sistemas alternativos de plantios possam ser feitos.
(Por Raquel Casiraghi, Agência Chasque, 25/04/2008)