A Organização das Nações Unidas (ONU) marcou, para o início desta semana, reunião de emergência na Suíça para debater a fome no mundo e a alta exagerada no preço das commodities. O drama, 'global e real', segundo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, exige medidas urgentes. O problema também está se refletindo no Brasil, acusado de se dedicar mais à produção de etanol e deixar de lado a de alimentos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu, no fim de semana, e disse que a acusação é falsa, 'coisa de rico', e culpou o alto preço do petróleo, que encarece o frete e os fertilizantes, pela crise dos alimentos.
Economistas, técnicos e especialistas brasileiros informam que a escalada nos preços dos alimentos – que também acontece no Brasil em alta dosagem – ameaça a meta de inflação. Eles alertam que o maior comprometimento da renda das famílias de menor poder aquisitivo, nas quais a alimentação consome até um terço das despesas mensais, pode ter reflexos no nível de inadimplência e no ímpeto de compra dos brasileiros. 'O ciclo de crescimento econômico pode ser afetado', admitiu o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Em Berlim, o ex-comissário da agricultura da União Européia Franz Fischler disse ontem que a explosão dos gêneros alimentícios é causada pela especulação e, por isso, uma redução da produção de biocombustíveis não seria uma solução para o problema. 'Uma prova disso é que a principal causa das rebeliões em alguns países do Sudeste da Ásia foi a explosão em 100% do preço do arroz, produto que não está relacionado à produção de biocombustíveis.'
No Brasil, a supersafra de 140,7 milhões de toneladas de grãos que será colhida este ano garantirá a comida à população, mas técnicos do Ministério da Agricultura acham que a pressão de preços dos alimentos no bolso do consumidor deve se agravar nos próximos meses. Previsões indicam reajustes de até 8% no custo dos alimentos em 2008, o que mantém a comida no pódio dos aumentos de preços. Ainda para ameaçar o preço dos alimentos está o valor do barril do petróleo, que não pára de subir. Já perto dos 120 dólares, o barril pressionará a Petrobras a elevar o preço dos combustíveis, gerando aumento nos fretes e, conseqüentemente, nos alimentos.
(CP, 27/04/2008)