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queimadas
2008-04-28

O alerta ambienrtal provocado pelos incêndios das pastagens realizados em várias ilhas do delta do Paraná e nas cercanias das localidades argentinas de Zárate e Baradero, colocou sobre a mesa um tema de fundo que ainda não foi discutido – e menos ainda resolvido – na região.

A antiga prática de queimar a vegetação em tempo de seca para varrer com tudo (“limpar”) e promover o nascimento de novos pastos para alimentar o gado, provoca muito mais prejuízos que benefícios. Como veremos, os prejuízos são gerais – para toda a sociedade – e os benefícios são para alguns particulares – os que ganham dinheiro com as vendas das fazendas.

O fogo é um elemento básico e elementar da natureza. Sua ação sobre a vegetação seca forma parte importante de muitos ecossistemas no mundo. Mas não é o caso de nossa região. Aqui, não se dá esse fogo espontâneo cíclico. Portanto, o uso humano do fogo para provocar uma reativação vegetal se transforma em uma força estranha que ocasiona mudanças drásticas, capazes de modificar o equilíbrio natural do lugar.

Sua ação empobrece o solo – queima a matéria orgânica; destrói a vida essencial do solo – atenta contra a conservação do mesmo, destrói a diversidade biológica, e como se tudo isso fosse pouco, libera quantidades importantes de gases de efeito estufa – fundamentalmente dióxido de carbono – que incrementam o aquecimento global. Como vemos, a ação irresponsável levada a cabo por pessoas que queimaram os campos nas ilhas do Paraná não difere substancialmente do que outros vêm realizando há muito tempo na selva amazônica e outros bosques nativos sulamericanos, com o fim de gerar pastagens para  o gado.

Como bem disse Jorge Cappato, presidente do Comitê Sulamericano da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN), é um erro infantil culpar o que tem ocorrido à ação do vento ou à pecuária. A impressionante contaminação provocada – que chegou a afetar todo o sul do território uruguaio – se deveu a que foram queimados cerca de 70 mil hectares de campo, como resultado de uma prática agropecuária ultrapassada e irresponsável.

Os danos foram vultosos. O mais grave é que pessoas morreram. Mas também há grandes perdas econômicas, ambientais e sociais que foram amplamente difundidas e impactos sanitários negativos. Poderíamos perguntar, tratando-se de uma velha prática, por que isso não aconteceu antes? O mais significativo foi a escala. Chegou-se a queimar tanto campo ao mesmo tempo devido à dramática mudança do uso da terra que está ocorrendo em toda a região.

A soja expulsou a pecuária de suas terras tradicionais. Os pecuaristas estão recorrendo a terras marginais que antes não utilizavam. Nas ilhas do delta do Paraná, antes criavam-se cerca de 10 mil cabeças de gado. Agora essa cifra se multiplicou mais de dez vezes. As lições deste episódio devem ser várias.

Os produtores rurais têm a obrigação de serem experts em sustentabilidade. As autoridades e os governos devem encarar com decisão uma planificação séria, dirigida ao uso e à produção sustentável dos recursos naturais, o que inclui um ordenamento territorial que otimize a produção sem por em risco o equilíbrio dos ecossistemas.


(Por Hernán Sorhuet Gelós*, Eco Agência, 26/04/2008)

*O autor é jornalista no Uruguai e escreve sobre meio ambiente para o jornal El País, de Montevidéo, onde o artigo foi publicado. Tradução de Ulisses A. Nenê, para a EcoAgência. Reprodução autorizada, citando-se a fonte.
 


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