Os biocombustíveis vêm sendo apresentados pelo governo brasileiro como alternativa de desenvolvimento para países pobres da África e do Caribe. Brasil e Gana inclusive firmaram acordo para produção de bioenergia durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, esta semana. Mas a prioridade do continente, por enquanto, é enfrentar a crise alimentar.
"Penso que pode ser uma alternativa, mas não agora. Eles querem fazer o negócio, mas primeiro queremos nos voltar para a nossa segurança e soberania alimentar, isso é prioridade para nós", frisa o agricultor moçambicano Daniel Abaco Mario, da União Geral das Cooperativas de Nampula - movimento ligado à Via Campesina.
No ano passado, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país africano, Brasil e Moçambique firmaram acordo de cooperação para produção de biocombustíveis. Mas ainda há certa desconfiança dos produtores quanto aos benefícios de partir para culturas com foco na bioenergia. No caso de Moçambique, por exemplo, já se fala em produção de biodiesel a partir de uma planta chamada jetrofa.
Daniel conta que pouco se sabe sobre o verdadeiro potencial dessa planta. As poucas informações disponíveis não chegam ao pequeno produtor. "O risco é que muitos já começaram a tentar plantar e plantam nas áreas onde devíamos plantar o milho, mas dizem que não podemos plantar nas terras mais férteis pois isso tem suas conseqüências. Não sabemos os efeitos disso, para nós ainda é um desafio", diz o agricultor.
Outro aspecto preocupa os pequenos produtores rurais: a incerteza quanto ao mercado de biocombustíveis. "Experimentamos fazer a soja e agora já não é bom negócio; tentamos a páprica mas ninguém mais compra. Agora falam de biocombustíveis de jetrofa, mas não sabemos para a vender. Por isso não concordo que seja uma alternativa neste momento", afirma.
Segundo Amade Sucá, coordenador para a área de alimentação na África da Action Aid, os argumentos do agricultor moçambicano se aplicam a todo o continente africano. "No momento, a prioridade não é a produção de biocombustíveis mas, sim, de alimentos. A preocupação é garantirmos maior diversificação da economia para que tenhamos mais produtos para
alimentação do povo africano".
Sucá acredita que os biocombustíveis podem vir a ser uma alternativa no futuro. Ele conta que a Action Aid desenvolve estudos em Moçambique, Zambia e Senegal justamente para ver até que ponto a produção de biocombustíveis pode ser uma opção para o aumento da renda dos camponeses. "Só tendo os resultados vamos ter um posicionamento oficial. Neste momento, dada a crise, a prioridade é a produção para alimentação".
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, Envolverde, 25/04/2008)