Os eleitores norte-americanos de origem latino-americana mostram um alto grau de consciência e preocupação ambiental, especialmente diante do aquecimento global, segundo uma pesquisa da organização ecologista Sierra Club. A pesquisa, feita pelo instituto Bendixe e Associates, detectou uma forte disposição da maior minoria étnica e de maior crescimento deste país a tomar medidas para enfrentar o uso de combustíveis fósseis. O uso destas fontes de energia, como petróleo, gás e carvão, emite gases causadores do efeito estufa, como o monóxido de carbono, e, segundo os cientistas, é a principal causa da mudança climática.
Mais de 80% dos mil eleitores de origem hispana que ouvidos na pesquisa disseram reconhecer que o uso de energia dessa origem tem um efeito substancial sobre o meio ambiente. Uma porcentagem semelhante disse que os assuntos ligados à energia e ao meio ambiente têm “muito (58%) ou “algum” (25%) impacto em sua qualidade de vida e na saúde de suas famílias. Dois terços dos consultados em todo o país disseram estar a par dos locais próximos de suas casas ou de onde trabalham com depósitos de materiais tóxicos ou que os produzem como refinarias, unidades químicas, fábricas ou incineradores de lixo.
Quarenta e dois por cento disseram que já tiveram pessoalmente preocupações de saúde por problemas ambientais onde viviam, sendo a mais comum a contaminação aérea. Mais da metade (51%) identificaram a contaminação do ar e da água como um dos problemas ambientais mais importantes que enfrentavam, enquanto 43% citaram a energia e o aquecimento global. “A energia e o aquecimento global são vistos como um dos dois problemas ambientais mais importantes para as famílias hispânicas, e quatro quintos desses eleitores o consideram um problema importante”, disse Sergio Bendixen, presidente do instituto de pesquisa.
Bendixen & Associados se converteu nos últimos anos no mais destacado instituo de pesquisa norte-americano de origem hispânica. Os resultados foram divulgados na quarta-feira. A pesquisa, feita na última quinzena de março, ocorreu em meio a uma crescente preocupação pública sobre o aquecimento planetário e suas conseqüências, e sobre as atitudes dos eleitores de procedência latino-americana. Este setor do eleitorado é considerado chave para o resultado das eleições presidenciais de novembro. Espera-se que participem mais de 10 milhões de eleitores dessa comunidade.
A população hispano-americana constitui cerca de 14% dos mais de 300 milhões de habitantes dos eu. Incentivada pela alta imigração e pelo tamanho das famílias, relativamente maiores do que nas demais minorias, se prevê que esta comunidade representará quase 30% da população total deste em 2050. A pesquisa ouviu cem eleitores latino-americanos em cada um dos Estados do Colorado (centro), Florida (sudeste), Nevada (ocidente) e Novo México (centro), os quatro com populações hispânicas desproporcionalmente grandes, bem como outros 600 no resto do país.
As entrevistas foram em espanhol ou inglês, dependendo da preferência do entrevistado. De todo os ouvidos, 54% nasceram nos Estados Unidos, 7% em Porto Rico e 39% na América Latina. Os nascidos no México foram, de longe, os mais numerosos dos nascidos no exterior, que representaram 22% do total. Quarenta por cento cursaram ensino secundário ou inferior, 23% tiveram alguma educação posterior à secundária, e 37% têm pelo menos um título universitário. Sessenta por cento se identificaram como democratas e apenas 15% como republicanos.
Em termos de atitudes gerais, mais de nove em cada 10 entrevistados disseram concordar com a declaração “tenho uma responsabilidade moral de me preocupar com as criações de Deus nesta Terra: as selvas e as florestas, os oceanos, os lagos e os rios”. Sobre o aquecimento global, 61% disseram ter recebido “muita” (28%) ou “alguma” (33%) informação. Mais de quatro em cada 10 (81%) disseram considerar a energia e o aquecimento global “um problema importante”, em oposição a “um problema menor” ou “nenhum problema”.
Os que preferiram ser entrevistados em espanhol inclinaram-se mais a identificar essas questões como “um problema importante” do que os que preferiram o inglês, por uma margem de 92% a 74%. De modo semelhante, os que se inclinaram pelo espanhol também tenderam mais a concordar (85% a 72%) com a afirmação de que o aquecimento global “gerará o derretimento das camadas de gelo polar e o aumento dos níveis do mar, com inundações catastróficas em áreas costeiras”. Nove em cada 10 entrevistados concordaram com a proposição de que suas famílias poderiam ajudar a combater o aquecimento global e a contaminação “sendo mais conscientes quanto à conservação de energia”.
Entre os meios mais populares para fazer isto, diz a pesquisa, figuram comprar eletrodomésticos que consumam menos energia (40%) e melhorar a eficiência do combustíveis dos carros (31). Mas, diante da pergunta quem era mais responsável pelo elevado preço da gasolina e do petróleo, 49% apontaram o governo, 31% as “grandes companhias de petróleo” e apenas 12% disseram “consumidores como eu”. Várias organizações de latino-americanos norte-americanos lançaram no ano passado a National Latino Coalition on Climate Change (Coalizão Nacional Latina sobre Mudança Climática), para informar sua comunidade.
Um de seus promotores, o representante Raúl Grijalva, que tambempreside o Subcomitê de Recursos Naturais sobre Parques Nacionais, Florestas e Terras Públicas da câmara baixa do Congresso, aplaudiu Sierra Club por realizar a pesquisa. “A energia como a mudança climática rapidamente se convertem em assuntos críticos, tanto para o público norte-americano quanto para a comunidade global. Este estudo revela a preocupação comunitária pelos temas ambientais por parte dos eleitores latino-americanos em todo os Estados Unidos”, afirmou.
(Por Jim Lobe, Envolverde, IPS, 25/04/2008)