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emissões de co2
2008-04-28

Algo de incomum está acontecendo nas águas suecas. As tripulações que atracam no Porto de Gotemburgo estão desligando os motores dos navios e conectando às embarcações à rede local de energia elétrica, em vez de queimarem óleo diesel ou combustível naval sulfuroso - um resíduo preto e grosso do processo de refinamento de petróleo.

"Eu sempre soube que esse combustível naval era extremamente sujo ajudava a produzir a chuva ácida que cai pesadamente sobre esta parte da Suécia", diz Per Lindeberg, gerente do sistema de eletricidade do porto e amante da pesca. "Fiquei muito feliz quando fomos capazes de desligar os motores dos navios".

Tecnologias de alta voltagem similares foram introduzidas em Zeebrugge, na Bélgica, e em Los Angeles e em Long Beach, na Califórnia. Mas em Gotemburgo, apenas uma pequena fração dos navios está equipada com tomadas especiais, de forma que os benefícios da eletricidade do porto são bem mais limitados.

E apesar da disponibilidade crescente de tecnologias mais limpas, a indústria naval fez pouco progresso no sentido de tornar-se mais verde, mesmo neste momento em que o tráfego naval fica mais pesado nas rotas existentes e rotas novas abrem-se no Ártico. Na verdade, os mais recentes esforços para fazer frente ao problema esbarraram em resistências. No entanto, essas resistências foram menos da indústria naval do que das grandes companhias petrolíferas que fornecem o combustível sujo.

A navegação produz aproximadamente o dobro do gás carbônico emitido pelo setor aéreo - mas as empresas aéreas enfrentam críticas maiores. As partículas emitidas pelos navios que queimam óleo de navegação pesado, descrito por alguns tripulantes como "iogurte negro", devido à sua consistência, também contêm fuligem, que, segundo os pesquisadores, captura o calor quando se deposita sobre o gelo, podendo acelerar o derretimento das banquisas polares.

Especialistas em saúde dizem que as partículas agravam as doenças respiratórias, as desordens cardiopulmonares e o câncer do pulmão, especialmente entre as pessoas que moram perto de locais onde há tráfego intenso de navios. Os motores dos navios produzem grandes quantidades de nitrogênio, que contribui para o crescimento explosivo de algas. Essas algas reduzem a quantidade de oxigênio da água quando se decompõem e criam as chamadas zonas marítimas mortas nas águas nas quais há tráfego intenso de embarcações, como o Mar Báltico.

"O volume enorme de poluentes da navegação aumentou exponencialmente juntamente com o crescimento das nossas economias e do comércio global", afirma Achim Steiner, diretor-executivo do Programa do Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU). "O setor de navegação é simplesmente menos visível do que outros setores, de forma que durante muito tempo a sua prioridade foi reduzida na nossa agenda".

James J. Corbett, professor de políticas marítimas da Universidade de Delaware, é co-autor de um estudo publicado em dezembro passado que atribui 60 mil mortes anuais em todo o mundo por doenças cardiopulmonares e câncer de pulmão às emissões dos navios, e prevê que estas mortes subam para 85 mil até 2012, caso a situação atual se mantenha.

Com os malefícios dessas emissões cada vez mais evidentes, neste mês a Organização Marítima Internacional, um órgão da ONU, propôs a redução do teor de enxofre dos combustíveis marítimos em todos os navios a partir de 2010. A organização também propôs medidas para a redução das emissões de óxido de nitrogênio pelos motores dos novos navios a partir de 2011. A organização pretende aprovar essas propostas em outubro.

Além disso, ela continua a trabalhar com medidas separadas no sentido de lidar com a questão mais difícil das emissões de dióxido de carbono. A Comissão Européia, o braço executivo da União Européia, composta de 27 países membros, anunciou que caso a Organização Marítima Internacional não apresente propostas concretas até o final deste ano, ela poderá regulamentar a questão, talvez com a inclusão da navegação no sistema europeu de comércio de carbono. Isso poderia obrigar os donos de navios a comprar licenças de poluição de outros setores.

Na semana passada o Parlamento Europeu aprovou uma resolução, sem valor de lei, pedindo à comissão que aja "urgentemente". A indústria de navegação tem apoiado as recomendações da organização porque elas teriam âmbito global e seriam introduzidas gradualmente. Mas a indústria de combustíveis imediatamente pediu uma revisão do elemento mais importante: um teto global para o teor de enxofre nos combustíveis marítimos de 0,5% até 2020, em relação ao máximo atual de 4,5%.

"Essa meta representa riscos para a segurança do fornecimento de mercadorias, e para tripulações de navios e motoristas de caminhão", afirma Isabelle Muller, secretária-geral da Europia, um grupo que representa a BP, a Exxon Mobil e outras companhias petrolíferas. Muller diz que a indústria de combustíveis não seria capaz de construir refinarias com rapidez suficiente, e que as companhias petrolíferas seriam penalizadas por fazer tal coisa, já que a refinação do petróleo contribui bastante para a emissão de gases causadores do efeito estufa.

Segundo um estudo feito no ano passado para o Instituto Americano do Petróleo, a indústria de combustível teria que arcar com um custo de US$ 126 bilhões em 13 anos para o investimento em equipamentos e produtos químicos necessários para a substituição dos combustíveis navais poluidores por quantidades de óleo diesel mais limpo e suficientes para atender à demanda do setor de navegação. O estudo também indicou que a indústria repassaria esses custos de cerca de US$ 13 ou US$ 14 o barril diretamente às operadoras dos navios.

A Wallenius Willemsen Logistics, que atua na Noruega e na Suécia, já utiliza combustíveis que contêm menos da metade da quantidade máxima de enxofre que seria exigida pelas regras propostas. "Sabemos que os clientes querem companhias de navegação mais verdes como parte da rede geral de fornecimento de produtos", afirma Lena Blomqvist, especialista em meio ambiente e em operações da Wallenius, explicando por que a companhia está preparada para pagar mais pelo combustível mais limpo.

Algumas companhias de navegação estão investindo em motores marítimos mais eficientes que capturam e convertem o calor desperdiçado em mais energia, reduzindo assim, ao mesmo tempo, o uso de combustível e as emissões. Mas, das centenas de navios atualmente em construção em todo o mundo, somente um punhado inclui esta tecnologia.

Alguns donos de empresas de navegação estão operando os navios em velocidades menores a fim de reduzir o consumo de combustível e as emissões, especialmente as de dióxido de carbono. Outras estão até testando a navegação por meio de velas. Mas essas iniciativas podem comprometer a velocidade e a confiabilidade das operações.

Em Gotemburgo, as tripulações dos navios conectam as suas embarcações ao sistema de eletricidade por meio de uma única tomada gigantesca, cerca de dez minutos após atracarem. A tecnologia reduz as emissões de enxofre, de nitrogênio e de partículas pelos navios a quase zero, além de acabar também com o ruído dos motores.

O sistema foi inaugurado em Gotemburgo oito anos atrás depois que a Stora Enso, uma companhia sueca da indústria de papel, que consome muita energia, solicitou ao porto auxílio para melhorar o seu perfil ambiental. Os custos do sistema variam de 70 mil euros a 640 mil euros para cada tomada, e dependem em grande parte da facilidade de se conectar o navio à rede elétrica portuária.

Em Gotemburgo, os custos dos sistemas são compartilhados pela Stora Enso, pelo porto e pelo governo sueco. A eletricidade vem da rede local, mas a Stora Enso paga um pouco mais pela eletricidade "verde" gerada por usinas eólicas. Um fator que prejudica a expansão da rede elétrica para o uso das embarcações é a diferença da freqüência elétrica dos navios. Um outro fator é o custo mais elevado da energia elétrica em relação ao combustível marítimo, que é isento de impostos.

Até o momento, as solicitações do porto por isenções de impostos para a rede elétrica de abastecimento dos navios não surtiram efeito, o que desapontou as autoridades portuárias de Gotemburgo. Mas Lindeberg, o gerente do porto que desenvolveu a tecnologia, diz que a gratificação que obtém é tanto pessoal quanto profissional.

A chuva ácida provocada por fontes de poluição como a navegação fez com que vários leitos de rio de arenito branco da Suécia ficassem pretos nos últimos 15 anos, diz ele, e os peixes não são mais abundantes como no passado. "Antigamente você só precisava passar uma puçá no rio para pegar o salmão", diz ele. "É especialmente quando estou pescando que penso nos danos provocados pela poluição".

(Por James Kanter, The New York Times, tradução de UOL, 25/04/2008)


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