Sem providências dos governos federal, estadual e das prefeituras, os capixabas estão se intoxicando e morrendo de doenças causadas por alimentos contaminados por agrotóxicos. E é só o começo, pois as os venenos agrícolas vão se acumulando no organismo, até se manifestarem na forma de cânceres, redução da imunidade e doenças genéticas.
O alerta sobre o efeito cumulativo dos agrotóxicos é de Valmir Noventa, um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Espírito Santo. Ele analisou os resultados de pesquisa nacional realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) em 2007, que inclui o Espírito Santo, divulgados nessa quarta-feira (23).
O Para apontou que de nove alimentos consumidos pelos brasileiros - alface, batata, morango, tomate, maça, banana, mamão, cenoura e laranja -, 17,28% estão contaminadas com resíduos de venenos agrícolas. Segundo assegurou a Anvisa, o Para passará a acompanhar oito novas culturas a partir de 2008. Os produtos selecionados foram o abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e uva.
Além da contaminação dos alimentos com venenos sequer indicados para doenças e pragas das culturas, ainda há a contaminação tolerada de agrotóxicos nas culturas.
"Se fossem analisados todos os venenos, os índices seriam maiores. Principalmente nos alimentos produzidos em larga escala, como a soja, a cana-de-açúcar, o milho, feijão, arroz e as frutas", lembra Valmir Noventa.
O dirigente explica que nas monoculturas realizadas principalmente por empresas, o controle biológico das doenças e das pragas é muito mais difícil. Então as empresas utilizam rios de agrotóxicos, aplicados até de avião. É o caso do Espírito Santo, destaca, onde aplicações aéreas de venenos agrícolas foram feitas até no último final de semana, em Jaguaré.
"Os alimentos que as pessoas comem nas cidades e até mesmo no campo estão com resíduos destes venenos. A água está contaminada com agrotóxicos; o próprio ar que respiramos está contaminado. Só que diferentemente da poluição do ar, a contaminação por agrotóxicos é difícil de se ver e sentir", explica Valmir Noventa.
Ele é categórico: "Os alimentos que as pessoas estão comendo hoje no Brasil são uma bomba de efeito retardado. Os agrotóxicos vão se acumulando no corpo das pessoas e no prazo de dez, 20, 30 anos vão explodir em doenças como vários tipos de câncer, doenças genéticas".
O dirigente do MPA denuncia que os venenos já estão produzindo doenças genéticas no Espírito Santo e no Brasil. Muitos dos casos são conhecidos, mas as empresas transnacionais que produzem e vendem os agrotóxicos, que chamam de pesticidas, conseguem calar os meios de comunicação de massa, como avalia o dirigente do MPA.
Valmir Noventa avalia o governo federal e os governos estaduais como responsáveis pela contaminação dos brasileiros. O governo Paulo Hartung se omite pela falta de compromisso do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) em relação ao combate aos venenos agrícolas.
"Nossa população está cada vez mais doente, dependendo de remédios. As pessoas já nascem envenenadas, pois as mães consomem agrotóxicos. E muitos já nascem com problemas genéticos e morrem", afirma Valmir Noventa. Ele defende que a sociedade civil comece a discutir, logo, o que está acontecendo a partir da contaminação dos alimentos.
O MPA faz parte da Via Campesina, juntamente com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MPA). A Via já faz sua parte: orienta os agricultores a produzir de forma diversificada, praticando a agricultura natural. É nas feiras livres que estes agricultores vendem seus produtos. Mas Valmir Noventa observa que para o consumidor não é fácil identificar o produto desta origem e aponta que dar visibilidade a estes produtos livres de veneno é um desafio para a Via Campesina.
Os venenos usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano, e 10 mil trabalhadores morrem anualmente no Brasil contaminados pelos agrotóxicos. Dos intoxicados por venenos agrícolas, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
Os agrotóxicos castram os brasileiros (provocam impotência sexual e frigidez); provocam doenças genéticas; causam doenças que podem levar ao suicídio, e que deprimem o sistema imunológico, facilitando o desenvolvimento de um sem número de doenças; vários tipos de câncer, entre muitas outras.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 24/04/2008)