A agricultora Marilene Hübner tem saudade dos tempos de pescaria farta nos fundos da propriedade, localizada na confluência dos rios Jacuí e Colorado.
Moradora de Tapera há 35 anos, costumava pegar traíras dando linhadas junto ao barranco, no distrito rural de Barra do Colorado. Agora, os cardumes de peixes deram lugar ao lixo, oriundo das vilas situadas Jacuí acima.
Navegar pelo Jacuí, na área urbana de Espumoso, no limite com Tapera, é testemunhar o que de pior o homem pode fazer com a natureza. Roupas, sacos de lixo recheados de detritos, garrafas pet em número suficiente para abastecer várias geladeiras e até TVs quebradas se acumulam às margens. Na Vila Paz, em Tapera, crianças brincam em meio a um lixão improvisado na barranca do rio. O mau cheiro vem do esgoto jogado no rio.
Lavoureiros, como Marilene, são os que mais reclamam. O lixo da cidade vai parar nas suas terras, sem que ela consiga desfrutar do luxo.
- Isso aqui era cheio de lontra. É tanto lixo, que elas sumiram. Mas, vez que outra, aparece alguma para alegrar a gente - comenta a agricultora.
As prefeituras de Espumoso, Tapera e Selbach têm plano de eliminação de poluentes hídricos na região. Isso seria feito com apoio da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e dinheiro financiado no Exterior. O contrato para construção de uma estação de tratamento de esgotos foi assinado em 2005 e está orçado em R$ 10 milhões. Parte do esgoto de Espumoso já é tratada, em três bairros, avisa o prefeito da cidade, José Parizotto (PDT). A esperança é que o restante seja eliminado com a estação projetada.
(Por Humberto Trezzi, Zero Hora, 25/04/2008)