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mídia e sustentabilidade
2008-04-25

Na enorme favela Cite Soleil, no Haiti, Placide Simone, 29, oferece um dos seus cinco filhos a um desconhecido. "Leve um", diz ela, embalando um bebê apático e apontando para quatro outros bebês esqueléticos. Nenhum deles comeu qualquer coisa hoje. "Leve-os. Só quero que você os alimente". O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, comandante militar da Amazônia e subordinado ao exército norte-americano através do SIVAM (Sistema de Monitoramento da Amazônia), entrou na paranóia de achar que terras indígenas são a porta aberta para o controle da região por estrangeiros. Falou sobre o assunto no reino FIESP/DASLU em São Paulo e a militares e convidados no Rio de Janeiro.

As terras indígenas de Raposa Serra do Sol foram invadidas por fazendeiros e empresas voltadas para o setor. Não querem sair. O jornal da BANDEIRANTES edição de sexta-feira, dia 18 de abril, ao final, apresentou um editorial do grupo BAND condenando as ações do MST no chamado abril vermelho. Segundo o editorial a perspectiva é de caos no País. E um dos sintomas que a BANDEIRANTES optou pelo modelo GLOBO de jornalismo (sensacionalismo e mentira) foi a contratação de Boris Casoy, antigo integrante do Comando de Caça aos Comunistas.

O movimento recomendava, à época da ditadura, que se matasse um comunista por dia para limpar o País. O estranho nacionalismo do general Heleno, que infringiu o Regulamento Disciplinar do Exército, liga a seta aparentemente para a esquerda e vira a mais de 200 para a direita. O problema todo é que a reserva indígena faz fronteira com a Venezuela e os EUA, que comandam as forças auxiliares brasileiras na Amazônia querem derrubar Chávez a qualquer preço. Petróleo.

Nunca em toda a minha vida ouvi ou vi em qualquer jornal de televisão, em qualquer rede advertências contra latifundiários e grileiros de terras públicas, ou a indústria da falsificação de escrituras no Norte e Nordeste do País. A GLOBO, quartel general da guerra contra a Venezuela tem o hábito de exibir documentários sobre o meio-ambiente defendendo a vida marinha, animais em extinção, enquanto propagandeia a ARACRUZ, considerada nos círculos ambientais europeus como predadora e criminosa.

O general Heleno faz apenas o jogo dos norte-americanos de parecer defender interesses nacionais num mundo de espetáculo, show e histerismo, enquanto garante direitos de empresas e latifundiários. Que a política indigenista recomendada pela ONU oferece riscos à soberania nacional ninguém tem dúvida, mas que o caminho não é entregar a terra e a Amazônia aos norte-americanos definitivamente não o é. Que ONGs internacionais ocupam a Região todo mundo sabe. Mas a privatização da Vale do Rio Doce foi um crime de lesa pátria e nenhum jornal de tevê noticia.

É evidente que o general não apareceu do nada com preocupações nacionalistas sabendo estar infringindo o RDE. Cumpre um papel dentro da lógica de recolonização da América do Sul e insere-se no contexto desenhado em Washington para essa parte do mundo, ainda que queira parecer o contrário. É como o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), uma iniciativa do governo e de empresas privadas que insere o Brasil definitivamente no rol das nações periféricas do mundo.

Somos uma Roça de Cana e os que nascemos aqui somos os bagaços. A alta do preço dos alimentos no mundo inteiro mata crianças na África, no Haiti (onde o Exército brasileiro "cumpre" missão "salvadora". Um dia as agências de publicidade noticiaram que você ainda teria um carro a álcool. Hoje, podem tranqüilamente anunciar que um dia você beberá etanol às refeições.

A "responsabilidade" é do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) que defende uma agricultura voltada para a produção de alimentos e a partir de pequenos produtores cooperativados. Ou seja. Vida, soberania e alimentos limpos. Contraria interesses dos grandes latifundiários que o general defende no seu canhestro nacionalismo. Índio para esses paladinos da lei, da ordem, do progresso, não é gente. É bicho.

Há um processo de reação das forças armadas latino-americanas, notadamente as da América do Sul, ao processo de integração fora do modelo ALCA (Associação de Livre Comércio das Américas), também montado em Washington. Insistem em serem forças auxiliares de um modelo totalitário e imperialista falando em nacionalismo. A fala do general Heleno se insere nesse contexto. Tem cheiro de Plano Colômbia.

Há uma grave crise na produção de alimentos no mundo. Há levantes em todo o continente africano contra a fome. Em países da Ásia, no Oriente Médio (no Egito o governo está usando polícia para reprimir famintos). E no Haiti, onde o Brasil "cumpre" a missão de garantir a democracia? No Haiti, onde três quartos da população ganham menos de US$ 2 por dia, e uma em cada cinco crianças padece de desnutrição crônica, o único negócio que prospera em meio a todo este cenário cinzento é a venda de bolinhos feitos de barro, óleo e açúcar, um quitute dos desesperados, que geralmente só é consumido pelos mais pobres.

Vai ver Chávez é culpado. Ou Fidel Castro. Ou as FARCs. Ou o MST. Dos bilhões de dólares gastos na guerra do Iraque as tevês não fazem editoriais falando em mentira (armas químicas e biológicas que não existiam, mas petróleo que existe). O processo de encaçapamento do ser humano, sua transformação em zumbi na sociedade do espetáculo cumpre esse papel. Não é comigo. Não tenho nada com isso. Claro, até o dia que só restar etanol para beber e bolinho de barro para comer.

E um general Heleno para fazer o jogo dos donos.

(Por Laerte Braga *, Adital, 24/04/2008)
* Jornalista


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