O investimento milionário da BP no etanol brasileiro é mais um sinal de que as petroleiras, em princípio contrárias ao biocombustível, já perceberam ser impossível ignorá-lo pelo sucesso que faz. Segundo especialistas, assim como a companhia britânica, a terceira maior petrolífera do mundo, outras grandes empresas do setor também estão diversificando seus portfólios de produtos para incluir combustíveis renováveis.
''BP e Shell estão na dianteira desse movimento'', afirma o professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, Alexandre Szklo. A BP é duplamente pioneira. Em 2000, mudou o nome de British Petroleum para BP, sigla para ''Beyond Petroleum'' (além do petróleo, em português). Antes de se voltar ao etanol, criou uma subsidiária para investir na energia solar, a BP Solar, que é hoje a segunda maior fabricante de células solares do mundo. Segundo o professor da Coppe, ela também é a primeira grande petroleira a realizar um investimento comercial - e não apenas em pesquisa - em etanol.
A anglo-holandesa Shell, por sua vez, avança na área de gaseificação de biomassa. A Total, petroleira francesa, segundo Szklo, tem pesquisas avançadas em óleos de origem vegetal, um produto semelhante ao H-bio, desenvolvido pela Petrobrás. De acordo com o professor, as empresas européias do setor avançam mais rápido nessa área. ''Há uma preocupação com a imagem corporativa. Na Europa, a pressão da sociedade sobre as petroleiras é maior'', comenta Szklo.
Outro motivo que justifica o interesse são as metas traçadas pela União Européia (UE) para biocombustíveis: em 2010, 5,75% dos combustíveis consumidos na UE terão de ser renováveis. ''Essas companhias terão de buscar fontes de provisionamento para biocombustíveis, e o Brasil, com a cana-de-açúcar, tem o custo de produção mais baixo'', diz Szklo.
COMMODITY
Para o sócio da IBM Business Consulting, Martiniano Lopes, o etanol está caminhando para virar uma commodity. ''Em pouco tempo o álcool será comercializado na bolsa de valores, assim como o petróleo'', diz Lopes. Por isso, segundo ele, as grandes companhias do setor terão de produzir e/ou comercializar o produto. ''Apesar de o investimento dessas indústrias continuar forte em petróleo, a fatia de participação do etanol dentro do faturamento vai aumentar.''
A entrada da BP no mercado brasileiro de etanol, segundo Lopes, também dá força a um processo de consolidação que já vinha ocorrendo no setor sucroalcooleiro. ''Eram 300 usinas nas mãos de 80 grupos, muitos deles familiares. Agora, o setor está se estruturando'', afirma. Ele cita como exemplos dessa consolidação a aquisição das usinas de açúcar Guarani pelo grupo francês Tereos, há dois anos, e, no ano passado, a compra das atividades de álcool e açúcar do grupo pernambucano Tavares de Melo pelos franceses do Louis Dreyfus Commodities.
(Por Mariana Aragão, O Estado de São Paulo, 25/04/2008)