A principal autoridade climática da ONU disse na quinta-feira (24) considerar a atual proposta climática dos EUA, que prevê um teto de emissões de carbono em 2025, apenas uma "oferta inicial" e lembrou que os três candidatos à Casa Branca defendem medidas mais rígidas. Yvo de Boer, secretário de Mudanças Climáticas da entidade, afirmou também que o mundo terá de adotar a energia nuclear - repudiada por muitos ambientalistas - e dar mais apoio aos países em desenvolvimento para combater o aquecimento global.
"Vejo muito como uma oferta inicial por parte dos Estados Unidos", disse De Boer a jornalistas que lhe perguntaram se a proposta apresentada na semana passada pelo presidente George W. Bush poderia desestimular a China a agir mais rapidamente contra a emissão de poluentes. "Os três candidatos presidenciais (nos EUA) colocam a mudança climática no topo de suas agendas, e estou confiante de que depois das eleições teremos uma posição ambiciosa dos EUA", acrescentou ele, que participa de um fórum sobre ciência e tecnologia em Pequim.
No início do evento, o vice-ministro chinês Xie Zhenhua, principal autoridade do país para questões climáticas, defendeu a criação de um fundo internacional destinado a transferir tecnologia "limpa" para países pobres. "Os países em desenvolvimento carecem de tecnologia avançada para lidar com a mudança climática, então os países desenvolvidos, para o benefício do planeta, deveriam adotar medidas tangíveis para remover as barreiras à transferência de tecnologia", disse Xie em seu discurso. "A inovação e transferência tecnológicas devem ser abrangentes", acrescentou.
A China é comprovadamente o segundo maior produtor mundial de dióxido de carbono (o principal dos gases do efeito estufa), e sua emissão anual pode já ter superado a dos Estados Unidos em 2007. Mas os dirigentes dizem que o país tem emissões baixas em termos históricos e per capita, e que precisa de ajuda ocidental para reduzir a poluição sem afetar sua luta contra a pobreza. De Boer manifestou apoio à posição de Xie, mas disse também que a China tem de se empenhar mais na difusão de políticas públicas que promovam as energias renováveis e uma maior eficiência energética.
"A China, como a maioria dos países, está realmente lutando para alcançar as metas que estabeleceu para si em termos de mudança climática", afirmou ele. "O desafio é realmente encontrar uma forma que permita à China se engajar mais sem ameaçar as metas de erradicação da pobreza e crescimento econômico. A comunidade internacional terá de colocar incentivos tecnológicos e financeiros." A China já se beneficia muito do chamado "mecanismo de desenvolvimento limpo", uma iniciativa da ONU que dá créditos de carbono a países ricos que ajudem nações em desenvolvimento a reduzir as suas próprias emissões. Em 2007, Pequim abocanhou a maior fatia desse mercado. Mas De Boer disse que o governo chinês está investindo ainda mais por conta própria, e que as soluções internacionais devem incluir não só ferramentas de mercados, mas também decisões políticas.
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 25/04/2008)