A diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Josette Sheeran, advertiu hoje de que as reservas de alimentos no mundo estão no nível mais baixo dos últimos 30 anos por causa da alta incessante dos preços no mercado mundial. Em uma teleconferência na sede do PMA em Roma, Sheeran fez uma atualização das graves conseqüências que a escassez de alimentos está causando nas populações mais frágeis do planeta.
"As reservas em muitos países se encontram no nível mais baixo dos últimos 30 anos, e, em alguns casos, dos últimos 60 anos, e em grande parte é porque se consome mais do que se produz", explicou o responsável do Programa Mundial de Alimentos. O organismo da ONU se viu obrigado em fevereiro a solicitar US$ 500 milhões de emergência à comunidade internacional por causa do buraco que o encarecimento dos produtos deixou em seu orçamento.
Sheeran indicou hoje que essa brecha se elevou a US$ 750 milhões e destacou que o número provavelmente aumentará, pois ainda não se conhecem as novas necessidades de assistência provocadas por esta crise. "Pensávamos que se tinha chegado a uma zona de calma, mas vimos como apenas em cinco semanas o preço do arroz dobrou na Ásia", disse. O Banco Mundial (BM) indicou recentemente que esta situação pode levar 100 milhões de pessoas nos países menos desenvolvidos do planeta a uma maior pobreza.
"Eu os chamo de o novo rosto da fome, porque são pessoas que há apenas seis meses não estavam em uma situação de emergência e agora entram totalmente nessa categoria", disse Sheeran. Assim, enquanto um lar no mundo desenvolvido investe menos de 18% de seu orçamento em alimentação, nos países em desenvolvimento a média é de 70%. Portanto, segundo o responsável do PMA, a margem de manobra nas nações pobres que dependem da importação de alimentos é muito baixa.
Ele advertiu de que a ONU enfrenta "uma situação fluente" que vai se acelerando à medida em que os preços de produtos básicos como os cereais continuam aumentando nos mercados mundiais. Sheeran destacou que a principal solução para a atual crise, a qual há dois dias qualificou de "tsunami silencioso", é um aumento da produção de alimentos que elimine a brecha com o aumento da demanda mundial, a principal responsável pela atual crise.
"O mundo unido consome mais do que produz, mas eu me considero otimista porque o mundo sabe como produzir mais", afirmou. Nesse sentido, ressaltou a importância de que organismos como o BM ou o Fundo Monetário Internacional (FMI) ajudem países em desenvolvimento com técnicas e instrumentos que multipliquem o rendimento de suas plantações. Além disso, afirmou, outro elemento positivo é "a consciência geral" de que há uma crise que deve ser enfrentada.
O PMA definiu a atual situação como o maior desafio ao qual enfrentou em seus 45 anos de história e que afeta o trabalho dessa agência da ONU de duas formas: encarecendo e, portanto, reduzindo a ajuda que pode emprestar e obrigando-a a congelar alguns programas. Assim, o PMA, com o mesmo orçamento que tinha em junho passado, agora pode fornecer 40% menos de ajuda, pois alimentos como o arroz, o trigo ou o milho praticamente dobraram de preço nos últimos meses.
(Efe, Ultimo Segundo, 24/04/2008)