Segundo especialista, sistema teria 40 estações espalhadas pelo País
A magnitude dos terremotos ocorridos nos últimos seis meses no Brasil fez o projeto de criação de uma rede sismográfica nacional ganhar força. Ontem, o chefe do Departamento de Sismologia da Universidade de Brasília (UnB), Lucas Barros, apresentou os detalhes da proposta aos assessores do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. "O tremor de ontem (anteontem) ajudou a sensibilizar as autoridades sobre a necessidade da rede. Precisamos de parcerias porque criar estações e operá-las não é algo barato", comentou Barros.
A reunião estava marcada havia alguns meses, mas coincidentemente ocorreu no dia seguinte ao registro do maior tremor de terra no Estado de São Paulo - 5,2 na escala Richter. O abalo, cujo epicentro foi no Oceano Atlântico, a 270 quilômetros da capital paulista, também foi o maior ocorrido no País nos últimos dez anos. O terremoto foi sentido em quatro estados: São Paulo, Rio, Paraná e Santa Catarina.
O projeto da rede de sismografia prevê inicialmente a instalação de 40 estações de monitoramento em pontos considerados estratégicos - locais onde já foi registrada alguma movimentação anteriormente. Cada estação vai detectar os tremores, incluindo os de magnitude inferior a 2 pontos na escala. "Hoje é difícil registrar os sismos pequenos. As estações que existem estão distribuídas de maneira disforme e os instrumentos estão ultrapassados", explicou o professor.
Segundo Barros, as 50 estações que já existem no Brasil estão concentradas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, pois os equipamentos geralmente estão próximos de hidrelétricas. "Há locais como a Amazônia, por exemplo, que não têm cobertura. Com a rede funcionando online poderemos localizar automaticamente qualquer sismo que aconteça em território nacional." O professor calcula que cada nova estação, com equipamentos modernos, custe US$ 25 mil.
A criação da rede, no entanto, não permitirá que novos tremores sejam previstos. Barros explica que a principal função é monitorar os pontos onde a atividade sísmica é maior e, se necessário, pensar em medidas que possam dar maior segurança à população quando o tremor ocorrer.
Em 2002, o geomorfólogo Allaoua Saadi, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas (UFMG), mapeou 48 falhas geológicas no território brasileiro. Essas falhas são geralmente onde ocorre a liberação da energia dos choque das grandes placas tectônicas. Mas, segundo Saadi, nem todas são monitoradas. "E a minha pesquisa era um pontapé inicial. Devem existir outras. Não cheguei ao oceano, por exemplo. Acredito que agora é o momento ideal para os pesquisadores solicitarem apoio."
(Camilla Rigi, O Estado de São Paulo, 24/04/2008)