A vitória do ex-bispo Fernando Lugo à presidência do Paraguai deve estender o debate sobre a renegociação do Tratado da Usina Hidrelétrica de Itaipu. O representante da Esquerda paraguaia defende um reajuste de preço na energia excedente que o país vende ao Brasil. Já o presidente Lula tem se mostrado avesso às alterações no tratado. Hoje, o Paraguai vende a energia elétrica excedente por R$ 75,12 o megawatts.
No entanto, a medida é vista com bons olhos por organizações sociais brasileiras. Na avaliação do coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Hélio Mecca, o contrato deve ser revisto. Ele também defende a revisão de outros contratos, inclusive no Brasil.
“O governo brasileiro deveria rever outros contratos que tem, que são tão ou mais absurdos do que este contrato, como por exemplo, quando foi da privatização da geração de energia do sul do Brasil, do Parque Gerador Energético do Sul do Brasil, que quem comprou foi uma empresa Belga-Francesa que comprou o patrimônio por 10% do valor e os 10% que eles pagaram foi financiado pelo governo. Atualmente, o governo brasileiro não está fazendo absolutamente nada para retomar esse processo, que hoje o patrimônio equivale a mais de 13 bilhões de reais e que tem uma geração de lucro extraordinária e que envia esses lucros em forma de remessa para outros países”, diz
O MAB afirma que a Hidrelétrica de Itaipu produz mais de 12 mil megawatts hora e que o lucro gerado vai para as empresas que distribuem a energia. Ou seja, empresas privadas, inclusive as multinacionais. Para Helio, a energia não deve se caracterizar como uma mercadoria que enriquece os grupos internacionais.
Além de discutir uma nova forma de partilha da energia que é produzida em Itaipu, o MAB defende a transparência nas negociações do governo. Hélio lembra que na época da construção de Itaipu foram feitas denúncias de desvio de verbas. “Teve um processo de corrupção extremamente grande, ou seja, de você fazer um orçamento e depois o valor real ser muito grande. Então, deveria ser feito um estudo muito grande e muito aprofundado de todo o processo de construção da Usina Itaipu”, diz.
(Por Paula Cassandra, Agência Chasque, 23/04/2008)