No norte da Alemanha, os ambientalistas estão comemorando um novo baby-boom. Desde novembro passado, 55 novas focas cinzas nasceram nas praias de Helgoland - ilha no Mar do Norte que é um paraíso para a vida selvagem da região. A novidade confirma que as focas cinzas estão de volta ao pedaço. Em apenas dois anos, o número de bebês dobrou.
O novo baby-boom pode ser explicado por uma legislação ambiental rigorosa – adotada pela Alemanha nos anos 70 – que passou a proteger essas espécies. Desde 1974, por exemplo, está proibida a caça de qualquer espécie de foca na Alemanha. Foi preciso, no entanto, esperar dez anos para festejar a chegada das primeiras focas cinzas adultas com coragem de botar o nariz novamente na ilha de Helgoland. E mais uns cinco anos até ver o primeiro bebê dar o ar de sua graça.
“Leva tempo até que uma espécie consiga retornar”, explica a bióloga Tanja Rosenberger, chefe da Seehundstation Friedrichskoog – uma das duas estações de reprodução e pesquisa que ajudam a preservar a espécie na Alemanha. Segundo Tanja, o número de bebês vem crescendo nos últimos anos porque mais e mais fêmeas que nasceram em Helgoland estão se tornando adultas e voltando para dar à luz em suas praias.
As fêmeas podem ser mães a partir dos três ou quatro anos de vida. Já os machos, só a partir dos oito ou dez anos. Pelas estimativas de Rolf Blädel, um dos responsáveis pela proteção ambiental em Helgoland, nas próximas duas ou três fornadas, deverá nascer uma centena de foquinhas. Blädel explica que, desde 1981, as águas até três milhas náuticas ao redor de Helgoland têm status de Parque Nacional – chamado de Naturschutzgebiet Helgoländer Felssockel. “Qualquer um que seja pego desafiando a lei dentro dos limites do parque é obrigado a pagar multas pesadíssimas, que podem chegar a 10 mil euros”, estima Blädel.
Vigilante ambiental do parque desde 1989, Blädel zela, ao lado do colega Dieter Siemens, para que as focas estejam sempre sãs e salvas – e reproduzindo em paz. Os dois patrulham as praias da região em longas caminhadas, sem se importar com as condições climáticas da ilha – nem sempre favoráveis ao homem.
Foi assim que Blädel viu o nascimento de Emma, a primeira foquinha cinza a sobreviver da leva de novos partos: “Os primeiros nascimentos aconteceram em outubro de 2007, mas as foquinhas não sobreviveram porque nasceram prematuras. No dia 12 de novembro, Emma veio ao mundo. Pesava quase dez quilos, e eu a deixei ‘voar’ ao continente. Ela foi para a estação de focas de Frikedrichskoog e sobreviveu”.
Com a ajuda do leite materno, que apresenta mais de 60% de gordura, os bebês ganham cerca de dois quilos por dia. Depois de três a quatro semanas de vida, já perderam a pele branca e são desmamados – precisam descobrir como prosseguir sozinhos. Uma fêmea adulta pesa até 180 quilos, um macho até 220. O que corresponde a uma fome de peso. A boa qualidade da água de Helgoland e a sua abundância em peixes ajudam a garantir uma alimentação farta. “Um adulto da espécie precisa de dez quilos de peixe por dia para ficar satisfeito”, diz Blädel.
O vigilante conhece bem a região. De 1979 até 2006 atuou como chefe da polícia náutica que patrulhava as águas ao redor da ilha. “Na costa da Alemanha, há barcos da alfândega e de controle da pesca ilegal. Todos estão à procura de pescadores e dessa forma ostensiva conseguem mantê-los longe de toda a área”, explica.
Navegar dentro dos limites do parque nacional só é permitido aos que vivem em Helgoland – e é obrigatório que o barco seja licenciado no próprio porto local. Bem em frente da ilha, a apenas cinco minutos de barco, ficam as praias de Dune – ilhota disputada não só pelas focas cinzas, mas também por leões-marinho e por inúmeras espécies de pássaros.
A bióloga Tanja conta que Dune se tornou especialmente atraente nos últimos anos por conta das condições desfavoráveis perto da ilha de Sylt (no estado de Schlewig-Holstein), onde as focas também gostam de dar à luz. “Tivemos várias tempestades na região, então as fêmeas procuraram lugares melhores, como as praias de Dune”. Nas colônias nas praias do Mar do Norte e no Mar Báltico, as focas cinzas coexistem pacificamente com as focas ‘harbor’ – a outra espécie da Alemanha.
Maiores predadores do país, as focas cinzas não têm nenhum inimigo natural. Apenas o homem, como lembra a bióloga: “Há dois mil anos, o maior problema para as focas cinzas era a caça. E esse continua a ser um problema no Mar Báltico até hoje”. Depois de permanecerem por séculos longe das praias continentais da Europa – além do perigo da caça, havia a ameaça dos pescadores, que as consideravam concorrentes na busca dos peixes mais procurados – as focas encontram agora um porto seguro em Helgoland.
Mesma sorte não têm as que freqüentam as águas mais ao norte. Segundo Rolf Blädel, na Escandinávia elas ainda são caçadas para serem dadas como alimento aos cães que puxam trenós. “Na Alemanha, nossos pescadores precisam – alguns ainda rangendo os dentes – aceitar e conviver com elas.”, diz o vigilante.
(Por Cristiane Ramalho*, O Eco, 22/04/2008)