Os líderes da Venezuela, da Bolívia, de Cuba e da Nicarágua anunciaram na quarta-feira a criação de um fundo de US$ 100 milhões (cerca de R$ 165 milhões) para combater o impacto da alta mundial nos preços dos alimentos sobre a população pobre da América Latina.
A decisão foi anunciada em Caracas, durante reunião da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), organização que reúne países latino-americanos contrários à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O fundo ajudaria a aumentar a produção de lavouras como as de arroz, feijão e trigo. Os representantes desses países também concordaram em criar programas conjuntos para promover o desenvolvimento da agricultura.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse aos outros líderes presentes - os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Nicarágua, Daniel Ortega, além do vice-presidente de Cuba, Carlos Lage - que é preciso criar uma rede de distribuição. "Para não cairmos nas mãos de intermediários e especuladores, que impedem milhões de pessoas de receber comida", disse o anfitrião. No entanto, não foram divulgados muitos detalhes do programa durante a reunião.
Crise
O alta nos preços dos alimentos vem provocando uma crise mundial. Em diversos países, como Haiti, Indonésia, Camarões e Egito, os aumentos provocaram revoltas populares recentemente. Segundo os participantes do encontro em Caracas, um dos motivos da alta dos preços seria o aumento na produção de biocombustíveis, incentivado especialmente pelos Estados Unidos.
Chávez afirmou que a crise alimentar é "a maior demonstração do fracasso histórico do modelo do capitalismo". O presidente da Nicarágua disse que no ano passado o preço do arroz aumentou 70%, e o do trigo, 130%. Segundo Ortega, o impacto social desses aumentos já é sentido ao redor do mundo. "Esta questão é realmente crucial para o futuro dos nossos povos, principalmente para as populações dos países mais pobres", disse Ortega.
África
Na África, ministros de Finanças anunciaram a criação de um fundo semelhante à iniciativa latino-americana, no valor de US$ 500 milhões. Metade desse valor seria usada para reduzir o impacto da alta dos preços dos alimentos, e o restante para aumentar a produção agrícola local. Na terça-feira, a Organização das Nações Unidas (ONU) chamou a atual crise dos alimentos de um "tsunami silencioso" que ameaça arrastar 100 milhões de pessoas no mundo para a fome.
(BBC Brasil, 23/04/2008)