Depois de uma reunião entre entidades, escolas e sindicatos de Jaguaré, no norte do Estado, os agricultores decidiram intensificar o debate sobre o lançamento de agrotóxico por aviões na região. Eles vão exigir uma audiência pública com os órgãos estaduais e federais para pedir, em caráter de urgência, que sejam tomadas providências contra o uso indiscriminado de venenos.
"Esperamos expor a situação na região, que é dramática, e reivindicar ações imediatas", ressaltou um dos coordenadores estaduais do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Dorizete Cosme.
Segundo ele, a audiência não só discutirá o problema em Jaguaré, mas também em outros municípios do norte, onde o lançamento de agrotóxico por avião também vem trazendo transtornos à população.
Na reunião, as entidades resolveram ainda intensificar a conscientização sobre o perigo do uso indiscriminado de venenos nas pequenas propriedades e em toda a comunidade de Jaguaré. Além disso, um trabalho será realizado pelo MPA para alertar as entidades que ainda não estão cientes do perigo desta atividade na região.
Os trabalhadores rurais de Jaguaré estão buscando apoio de toda a sociedade para que as autoridades atuem em defesa da população local. De acordo com informações do MPA, mais de uma centena de moradores de todo o município já foram contaminados com os agrotóxicos lançados via aérea.
Os agricultores denunciam que os venenos lançados nos cafezais contaminaram gente e atingiram áreas próximas à Reserva Biológica de Sooretama, talvez a própria reserva, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A preocupação dos agricultores é grande e eles alertam que os moradores de Jaguaré não são as únicas vítimas dos lançamentos aéreos de venenos agrícolas no Espírito Santo. Aviões foram também empregados em Vila Valério e Linhares.
Os venenos lançados sobre estas comunidades produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas. Provocam impotência sexual (que podem levar ao suicídio) e frigidez.
Ao todo, os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 23/04/2008)