O senador Jefferson Péres (PDT-AM) manifestou em discurso preocupação com o futuro da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Ex-integrante da comissão parlamentar que estudou a demarcação da reserva há alguns anos, Jefferson Péres disse não compreender porque o governo decidiu demarcar a reserva de forma contínua mesmo sabendo que lá dentro vivem quatro etnias diferentes, que "nem sequer falam a mesma língua".
- Há perigo de separatismo futuro na reserva Raposa Serra do Sol. A área de Kosovo foi da Sérvia, mas bastou uma declaração unilateral de independência para a Comunidade Européia reconhecer o novo Estado. E agora vemos que os defensores da reserva de forma contínua não aceitarão se o Supremo Tribunal Federal decidir que a demarcação não deve ser contínua. A advogada do Conselho Missionário Indigenistas já informa que vai recorrer a instâncias internacionais. Isso é muito grave - assinalou.
Jefferson Péres contestou a afirmação de que na reserva existiria uma disputa entre 18 mil índios e "uns seis plantadores de arroz". Disse ter constatado, quando integrou a comissão do Senado que estudou o assunto, que lá existem caboclos há mais tempo do que índios macuxis, os quais vieram da região do Caribe, da foz do Rio Orinoco (Venezuela).
Para ele, o governo "cometeu um grave equívoco" ao decidir pela demarcação contínua de Raposa Serra do Sol, que gerou uma reserva de 17 mil quilômetros quadrados, quase do tamanho do estado de Sergipe. Na área, acrescentou o senador do Amazonas, existem não-índios descendentes de nordestinos que para lá se dirigiram no final do século 18, que se tornaram agricultores, extratores e pecuaristas.
- Eles vivem lá há gerações, lado a lado com os índios aculturados. Eles têm direito de viver ali tanto quanto os índios. Têm a mesma legitimidade. Não defendo os interesses de proprietários rurais. Defendo os caboclos que lá vivem - salientou o senador.
(Por Eli Teixeira, Agência Senado, 22/04/2008)