Impulsionada por um evento climático de grandes proporções no Pacífico, uma das mais fortes La Niñas em muitos anos está, aos poucos, perdendo força, mas continua a envolver o Pacífico perto do Equador, como mostram novos dados sobre os níveis do mar, coletados pelo satélite oceanográfico franco-americano Jason.
Essa La Niña, que persistiu no ano passado, é indicada pela área azul no centro da imagem ao longo do equador. Azul indica níveis do mar mais baixos que o normal (água fria). Os dados foram reunidos no início de abril.
A imagem também indica que esta La Niña está ocorrendo dentro do contexto de um evento climático maior, os estágios iniciais de uma fase fria da Oscilação Decenal do Pacífico. Esse fenômeno é uma flutuação de longo prazo do Oceano Pacífico que alterna fases frias e quentes em períodos de cinco a 20 anos, aproximadamente. Na fase fria, temperaturas de superfície mais altas que o normal, causadas por água quente, formam uma ferradura que conecta norte, oeste e sul do Pacífico, com água fria no meio. Durante a maior parte dos anos 1980 e 1990, o Pacífico ficou preso na fase quente da oscilação, quando essas posições se invertem.
A La Niña é essencialmente o oposto do El Niño. Durante o El Niño, ventos enfraquecem e a água quente ocupa toda a região tropical do oceano Pacífico. Fortes chuvas ligadas às águas quentes movem-se para a região central do Pacífico, causando secas na Indonésia e Austrália e mudam a rota das correntes atmosféricas nas Américas. Durante a La Niña, ventos são mais fortes que o normal. Água fria, que normalmente fica ao longo da costa da América do Sul, é empurrada para o meio do Pacífico equatorial. A La Niña muda os padrões do clima global, e está associada a baixas taxas de umidade do ar e menos chuvas ao longo das costas da América do Norte e do Sul.
"Essa fase fria da oscilação do Pacífico pode intensificar os impactos ao longo da bacia desse oceano da La Niña ou diminuir os do El Niño", disse Bill Patzert, oceanógrafo e climatologista da Nasa, em Pasadena, Califórnia, segundo nota distribuída pela agência espacial. "A persistência desse padrão em larga escala nos diz que há muito mais que uma La Niña isolada ocorrendo no Pacífico."
A mudança na oscilação do Pacífico terá implicações significativas para o clima global. Isso poderá afetar as atividades de furacões, secas e enchentes ao redor, de toda a bacia do oceano, além de ecossistemas marinhos e padrões de temperaturas globais em terra.
"As idas e vindas do El Niño, da La Niña e a Oscilação Decenal do Pacífico são parte de uma longa mudança em curso no clima global", disse Josh Willis, um oceanógrafo e cientista do clima, de acordo com a mesma nota. "Esses fenômenos climáticos naturais podem algumas vezes ocultar o aquecimento global causado por atividades humanas. Ou podem ter o efeito oposto acentuando-as."
(Estadão Online, Ambiente Brasil, 23/04/2008)