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segurança alimentar
2008-04-23

No momento em que a cotação do trigo está disparando, que os seus estoques mundiais nunca estiveram tão reduzidos e que os motins da fome vêm se multiplicando pelo mundo afora, surge um novo elemento complicador que reúne todas as condições para agravar mais ainda a situação. Trata-se da ferrugem negra do trigo (Puccinia graminis), um terrível parasita, conhecido desde a Antiguidade, do qual uma cepa virulenta apareceu pela primeira vez em 1999 em Uganda (daí o seu nome de Ug99). A sua presença acaba de ser detectada no Irã, após ter sido sinalizada no Quênia em 2001, e depois na Etiópia em 2003. Em 2007, ela ocasionou graves prejuízos nestes países, além de ter sido detectada também no Iêmen.

Segundo os especialistas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), "o fato de o fungo da ferrugem do trigo ter sido detectado no Irã é muito preocupante, pois a sua progressão poderia comprometer rapidamente a produção de trigo nos países situados nas zonas de risco". A FAO acaba de lançar um alarme em seu site (www.fao.org) por temer que os esporos deste parasita, ao serem transportados pelos ventos dominantes, prossigam rumo aos grandes países cerealistas situados a leste do Irã, ou seja, o Afeganistão, a Índia, o Paquistão, o Turcomenistão, o Uzbequistão e o Cazaquistão.

"A ameaça é real", avalia também Yvan Sache, um especialista nas ferrugens do trigo que atua no Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas (INRA), tanto mais que "80% das variedades de trigo cultivadas no mundo são sensíveis a esta cepa". Para debelar a sua progressão, é preciso empreender um trabalho de prevenção o mais cedo possível, utilizando fungicidas. Uma vez que a epidemia começou a alastrar-se, e quando não existe nenhuma proteção, a presença do parasita "pode acabar resultando num rendimento nulo e numa destruição completa da cultura", acrescenta o especialista.

Além de ser conhecida desde tempos remotos, a Puccinia graminis já esteve no centro das atenções em décadas recentes. Durante a Guerra Fria, ela era considerada como uma arma biológica pelos americanos e os soviéticos. Por ocasião da sua mais recente aparição nos Estados Unidos, em 1974, ela destruiu 40 % das colheitas de trigo. Em conseqüência deste evento, o agrônomo americano Norman Borlaug, a quem foi atribuído o prêmio Nobel da Paz em 1970, desenvolveu diversas variedades de trigo capazes de resistir à ferrugem negra. Contudo, em 1999, uma mutação que foi constatada no fungo tornou esta proteção inoperante.

Pesquisas vêm sendo conduzidas atualmente por um instituto baseado no México, o Centro Internacional para o Aprimoramento do Milho e do Trigo (Cimmyt), no sentido de isolar e cruzar variedades de trigo resistentes à nova cepa. Elas estão sendo testadas atualmente em 27 centros pilotos no Nepal, na Índia, no Afeganistão e no Paquistão. Mas será preciso aguardar durante certo tempo até que elas possam ser utilizadas.

A periculosidade da Puccinia graminis se deve à rapidez com que a sua infecção se alastra. Uma vez que ela atingiu um campo de trigo verde, ela forma sobre os caules gordas pústulas um tanto negras, repletas de uma poeira constituída pelos esporos do fungo. Trata-se de células isoladas que podem gerar um novo exemplar sem precisarem de fecundação.

Estes esporos são produzidos uma vez a cada quinze dias, e em quantidades tão grandes que eles podem formar uma nuvem visível a olho nu. Eles levantam vôo, acompanham os ventos dominantes e são capazes de fazer viagens de grandes distâncias. É este fenômeno que havia ocorrido por ocasião de uma epidemia de ferrugem amarela que havia se iniciado, em 1986, no Nordeste da África e que havia se propagado em direção ao Iêmen e ao Irã, até alcançar a Ásia Central e a Índia em 1997, provocando várias centenas de milhões de euros de perdas com a destruição das colheitas.

Num passado mais remoto, a Europa também foi atingida pela ferrugem negra, mas, na França, o fungo foi erradicado quando os agricultores perceberam, no começo do século 19, que uma árvore pequena, a uva-espim (Berberis vulgaris), que era utilizada como cerca, estava na origem das epidemias. "Esta é a espécie sobre a qual o fungo realiza a sua reprodução sexuada, ao passo que os esporos são assexuados", explica Yvan Sache. No decorrer deste processo, ocorre uma mistura genética que favorece a aparição de mutações.

A partir da descoberta do ciclo complexo da Puccinia graminis e do papel da uva-espim, campanhas de arrancamento foram empreendidas num grande número de países, inclusive na França. A ferrugem negra continua sendo perigosa, ocasionalmente, nas regiões da Europa Central e da Europa Oriental onde os verões são muito quentes, e para os trigos duros do sul da Europa.


(Por Christiane Galus, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 23/04/2008)


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