O governo canadense iniciou na quinta-feira, dia 17 de abril, o processo de proibição de mamadeiras de policarbonato - um plástico duro e moldável - ao declarar oficialmente que um de seus componentes químicos é tóxico, o bisfenol-a. A decisão, dos serviços de saúde e do meio ambiente do Canadá, é a primeira medida tomada por qualquer governo contra o bisfenol-a, ou ABP, um produto químico contido no material das mamadeiras e garrafas plásticas que imita um hormônio humano e que tem induzido, a longo prazo, mudanças em animais expostos a ele através de testes.
"Não vamos esperar os efeitos a longo prazo do bisfenol-a para tomar medidas de proteção ao nosso povo e nosso ambiente”, disse o ministro do Meio Ambiente, John Baird, em entrevista à imprensa. O impacto mais imediato da classificação como produto tóxico será a proibição da importação e da venda de mamadeiras para bebês feitas com garrafas de policarbonato transparente e rígido. No entanto, essa medida só terá efeito após um período de 60 dias de discussão.
O ministro da Saúde, Tony Clement, disse aos jornalistas que, após revisar 150 trabalhos de investigação sobre o ABP e realizar seus próprios estudos, seu departamento concluiu que esse produto químico representa um risco elevado para recém-nascidos e crianças com até 18 meses. O ministro disse ainda que estudos com animais sugerem que "haverá sintomas comportamentais e neurológicos numa fase posterior de suas vidas".
Além disso, o ministro Clement afirmou que lavar as mamadeiras plásticas com água fervente provoca a liberação do produto químico no conteúdo das garrafas. Ele sugeriu que o governo teria examinado a possibilidade de banir também o uso de epoxies feitos com ABP, e pulverizados na maioria dos recipientes de alimentos infantis como revestimento. Mas acrescentou que não existe qualquer alternativa prática no momento.
Ambos os ministros, no entanto, insistiram em que a pesquisa atual mostrou que adultos que utilizam recipientes para comida e bebida feitos com plásticos relacionados com o ABP não estariam correndo riscos. "Não existe risco atual para o canadense médio consumir qualquer coisa contida nesses recipientes", disse Clement. Apesar disso, o governo canadense vai começar a monitorar a exposição de um grupo de 5.000 pessoas ao ABP até 2009. Se a investigação indicar perigo para adultos, o governo tomará medidas adicionais, disseram os funcionários.
Além das preocupações com relação a crianças e jovens, o governo afirmou que sua análise do ABP constatou que mesmo níveis reduzidos do produto químico podem prejudicar peixes e outras formas de vida aquática ao longo do tempo. Se a proibição da mamadeira para bebê entrar em vigor apenas em 19 de Junho, algo que só poderá ser modificado diante de novas evidências significativas (em contrário), o efeito prático da medida será pequeno.
Notícias veiculadas no início da semana passada, de que o governo iria declarar o ABP tóxico, provocaram uma corrida da maior parte dos grandes varejistas do Canadá para remover de suas lojas produtos de ABP relacionados à alimentação. A empresa Shoppers Drug Mart, a maior do setor, tomou a medida na sexta-feira, em suas 1.080 lojas pouco antes do anúncio do governo.
A Nalgene, empresa que transformou o policarbonato de uma peça de equipamento de laboratórios em um popular recipiente para bebidas, decidiu deixar de utilizar esse plástico e optar por outros materiais que não contêm ABP.
Em Washington, na sexta-feira, Charles E. Schumer, senador democrata por Nova York, anunciou que pretende apresentar um projeto de lei para a proibição total do uso de plásticos relacionados com o ABP em produtos infantis e também em qualquer recipiente para comida ou bebida para adultos.
(Por Ian Austen, New York Times, tradução da EcoAgência, 21/04/2008)