No que depender do Brasil, três novos temas serão incorporados aos debates da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Unctad), que realiza sua 12ª reunião de hoje (19/04) ao dia 25 em Gana: mudanças climáticas, energia e migrações. A ampliação das discussões está sendo proposta pelo G77, grupo de países em desenvolvimento da América Latina, África e Ásia, do qual o Brasil é porta-voz. A Unctad resiste.
“A resistência vem, em parte, da alegação de que há outros fóruns cuidando desses assuntos. Por outro lado, se alega que o orçamento da Unctad é limitado e a criação de novas áreas de estudo prejudicaria as que já vem sendo discutidas”, conta o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, embaixador Carlos Márcio Consendey.
Ele participa das negociações do documento final da 12ª Unctad, que reunirá 193 países na cidade africana de Acra, em torno do tema “Identificando oportunidades e desafios da globalização para o desenvolvimento”.
O G77 discorda. “Quanto ao primeiro argumento, a gente acha que a Unctad tem uma contribuição a dar porque vai olhar estas mesmas questões de um outro lado, vendo qual é o impacto sobre os países em desenvolvimento”, alega o embaixador.
No caso das mudanças climáticas, por exemplo, ele ressalta que tanto as alterações em si quanto os esforços para combatê-las têm conseqüências econômicas. “É interessante ter uma organização que examine estas questões dos países em desenvolvimento que têm menos recursos, que têm níveis de emissão ainda relativamente baixos e precisam de espaço para se desenvolver”, pondera.
No que se refere a migrações, o G77 propõe que a Unctad estude como tais movimentos podem contribuir para o desenvolvimento. Também quer mostrar aos países desenvolvidos que as migrações são úteis e podem gerar desenvolvimento. Em alguns países, segundo o embaixador, as remessas de imigrantes representam parte importante da balança de pagamentos – é o caso do Equador e mesmo do Brasil.
Quanto à energia, o diretor do departamento econômico do Itamaraty pondera que é um tema importante da atual agenda internacional. “A Unctad tem que discutir as grandes questões internacionais da área econômica, com o foco dos países em desenvolvimento. A crise atual de energia, a elevação dos preços do petróleo, tudo isso tem conseqüências para o desenvolvimento”, defende Carlos Márcio Consendey.
O debate, segundo ele, também deve incluir a produção de biocombustíveis e seu papel para o desenvolvimento dos países em desenvolvimento. “Isso abre oportunidades importantes para os países em desenvolvimento”, acredita.
Individualmente, além de defender as demandas do G77, o Brasil propõe o debate sobre investimentos públicos e sua relação com os fluxos de investimento estrangeiro. A Unctad é um dos principais centros de estudo sobre fluxos de investimentos do mundo.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 19/04/2008)