O paisagista Arthur Simpson sempre acreditou que todo mundo gosta de árvores. Até se mudar para Nova York. "Não é incomum ouvir as pessoas dizerem que não as querem", disse Simpson, se referindo a qualquer planta que a cidade resolva plantar em uma parte da calçada ou qualquer outro espaço público. Simpson tem acesso a essas reclamações pois trabalha para o Departamento de Parques e Recreação da Cidade de Nova York, um dos 40 paisagistas que ajudam a executar a iniciativa do prefeito Michael R. Bloomberg em plantar um milhão de árvores até 2017.
Se você é um paisagista perversamente inclinado a tentar fazer negócios em Nova York, agora é um bom momento. A cidade contratou 24 no último ano, em sua maioria originários de lugares onde as árvores não são exatamente controversas. Simpson, 32, vivou e trabalhou nos espaços abertos de Montana, Oregon e, recentemente, Arizona, antes de se casar com uma cantora de ópera da cidade e ir morar no Queens.
Simpson se ajustou bem a seu novo habitat urbano: ele tem parentes na região e no último ano esteve em cinco óperas, cinco a mais do que havia visto em toda sua vida. Um homem tranquilo, do tipo que usa camisas de flanela e deixa a barba por fazer, o típico paisagista de florestas, apenas um aspecto da cidade de Nova York surpreendeu Simpson, a recepção nada amigável que tem nos lugares onde será plantada uma árvore.
Algumas vezes os moradores e proprietários se mostram preocupados com suas alergias (apesar as árvores buscarem melhorar os índices de asma e alergias); outras eles temem que um galho caia sobre seus carros (nada que uma ligação solicitando uma poda não resolva gratuita). Às vezes eles não querem a enorme reforma necessária para plantar uma árvore em um trecho de concreto.
Meses atrás, Simpson estava no Harlem tentando acalmar um elegante senhor preocupado que as raízes da árvore a ser plantada na frente de sua casa penetrariam seu cofre subterrâneo. Isso sem mencionar todas as folhas - ele não seria responsável por limpar a calçada? (Sim). Ele poderia ser multado caso não fizesse isso? (Teoricamente sim, mas a cidade só interfere em casos muito graves).
O homem estava tão contrariado que cortou um pedaço de papelão para proteger suas roupas e se fincou no buraco onde a árvore seria plantada. Simpson usou todos os argumentos de um amante das plantas - elas aumentam o valor de uma propriedade, limpam o ar, mantêm as casas frescas no verão e aquecidas no inverno - mas nada convenceu o homem a sair.
A manifestação só teve fim quando Bram Gunther, vice-diretor de paisagismo e hortocultura da cidade, e William Castro, comissário de parques do distrito de Manhattan fizeram uma (rara) concessão ao concordar que nenhuma árvore fossem plantada ali até que se pensasse melhor no caso. Para Simpson, isso foi um treinamento no estilo nova-iorquino. "Eles aceitam se pedirmos, mas não podemos impor o que vamos fazer", ele resumiu.
(The New York Times, 20/04/2008)