O carvão representa tão-somente 1,6% entre as fontes de geração de energia no Brasil, mas agora está despertando como o fator preponderante, pelo menos no Rio Grande do Sul, para nos abastecer. Aprendemos nos bancos escolares que o carvão regional não só era uma fonte das mais poluentes como também de aproveitamento difícil, pela sua baixa qualidade. Passaram-se décadas até que as tecnologias modernas conseguiram superar alguns obstáculos, especialmente a emissão de gás carbônico quando da queima do carvão. O mundo está precisando de energia farta, barata e confiável e esta ainda é, sem dúvida, a produzida pelas grandes hidrelétricas. Mas até elas têm sido contestadas pelos ambientalistas, como no caso brasileiro.
Evidentemente que não se prega uma exploração sistemática, descuidada e predatória do meio ambiente nos grandes cursos de água como só o Brasil tem. No entanto, sem energia não levaremos o progresso às regiões mais recônditas do País. Escolas não terão acesso à internet, nem água encanada boa, nem luz, nem rádios ou televisões. Por isso a eletricidade é tão importante. O Brasil tem necessidade de muita energia, de Norte a Sul. No caso do Sul, o Rio Grande desponta, uma vez que as alternativas com o abastecimento de gás, inclusive para usinas, têm sido tão intermitentes quanto acontecia na época ainda da famosa Light, no Rio de Janeiro. Tanto era verdade que uma música de Carnaval lembrava que o Rio era "cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz".
O Programa de Aceleração do Crescimento, PAC, destinou R$ 52 milhões para a exploração do carvão gaúcho, segundo relembra Indústria em Ação, revista do Sistema Fiergs, citando o presidente Paulo Tigre como avalista de que, sem mais e mais energia, o Brasil e o Rio Grande não têm como se desenvolver. Ora, como o Rio Grande do Sul detém 90% das reservas carboníferas brasileiras, nada mais justo de que ser direcionado para aqui o investimento da MPX Energia, que pertence ao empresário Eike Baptista. O empreendimento será tornado realidade com Seival II, em Candiota, histórica cidade gaúcha. Afastados ou pelo menos bastante minimizados alguns problemas verdadeiros no uso do carvão e derrubadas lendas urbanas sobre o produto, foi garantida a aplicação de US$ 1,4 bilhão, cerca de R$ 2,3 bilhões, com a geração de quatro mil empregos, o que é o melhor de tudo, para a implantação do projeto. Quando estiver operando, Seival II terá 1.250 servidores, com 600 MW de geração de energia, isso em 2014, trabalhando a pleno. Para quem ainda nutre preconceitos fora dos normais quanto à utilização de carvão, é bom saber que nos Estados Unidos a matriz energética depende em 50% dele, enquanto na Alemanha chega a 40% e no Leste Europeu 80%, segundo bem lembrou Carlos Faria, diretor da Copelmi Mineração Ltda., que é a maior mineradora particular de carvão no País.
Então, vamos deixar para trás os exageros de uma época quando a tecnologia não havia alcançado os níveis de proteção ambiental de hoje. Os grandes filtros evitam que nuvens negras cubram os campos, cidades e as pessoas próximas das usinas movidas a carvão. Tivemos, há décadas, problemas com a fábrica de celulose em Guaíba, quando o cheiro fétido de fato invadia Porto Alegre. Porém, fortes investimentos em equipamentos acabaram por tirar o fedor característico que exalava da operação e, desde muito, a fábrica é aceita por todos, sem maiores problemas. Que venha a energia do carvão, quando o Rio Grande tanto precisa de progresso, empregos e renda.
(JC-RS, 22/04/2008)