O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu nesta segunda-feira (21/04) as críticas de que a produção de biocombustíveis reduz a área plantada de alimentos e causa alta nos preços dos produtos. "Nós não aceitamos que haja meia conversa sobre a questão do aumento dos alimentos", disse esta manhã em seu programa de rádio "Café com o Presidente".
Ele diz que polêmica é natural porque o Brasil é um grande produtor agrícola. "O Brasil é o maior exportador de café, soja, suco de laranja, açúcar, carne e agora o Brasil é um dos maiores exportadores de minério e está exportando etanol".
Ele defendeu a tecnologia brasileira de produção de álcool. "Temos o orgulho de, há 30 anos, termos a tecnologia de um combustível renovável, gerador de empregos, seqüestrador de carbono e, muito mais importante, limpo", disse.
Lula participa na África da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e da inauguração da sede da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em Gana.
O presidente afirmou que a instalação da empresa na África produzirá no continente o mesmo efeito que se produz no Brasil. "Nós estamos convencidos que a Embrapa pode ajudar vários países africanos a deixarem de ser tão pobres, a terem uma agricultura competitiva", comentou.
Sobre sua participação na Unctad, Lula falou sobre a necessidade de aumentar a produção de alimentos ao invés de culpar os biocombustíveis pelo aumento de preço dos alimentos. "O dado concreto é que temos 854 milhões de homens e mulheres e crianças que dormem com fome todo santo dia", afirmou.
Ele defendeu a utilização de terras agricultáveis disponíveis para a produção de alimento. No evento, Lula também tratou da Rodada de Doha, acordo da OMC (Organização Mundial do Comércio) para que os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos sejam reduzidos.
"Do jeito que está hoje, com o forte subsídio dos Estados Unidos e da União Européia aos seus agricultores, obviamente que fica difícil os países pobres vender algum alimento", disse Lula, que retorna hoje ao Brasil. Antes se encontrará com o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e de reunião com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.
FMI
Na semana passada, o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, disse que teme que "pior" ainda esteja por vir nos distúrbios causados pela crise de alimentos em países pobres. Ele disse que os biocombustíveis produzidos com produtos agrícolas alimentares colocam "um verdadeiro problema moral" no tema.
Strauss-Kahn pediu que seja replantada a produção de biocombustíveis feita com produtos agrícolas que sirvam para a alimentação. "Nas revoltas da fome, o pior, infelizmente, talvez esteja à frente de nós", disse à emissora "Europe 1", e acrescentou: "centenas de milhares de pessoas vão ser afetadas".
(Agência Folha, 21/04/2008)