O Jacuí, rio responsável por 85% do manancial que forma o Guaíba, nasce de um fiapo de água no alto de coxilhas que emolduram o limite dos municípios de Passo Fundo e Mato Castelhano.
É ali, entre campos e lavouras do norte do Estado, que começa a trajetória de 860 quilômetros responsável pela formação de uma das mais importantes bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul. É também a partir desse ponto que o jornal Zero Hora começa, neste domingo (20/04), uma expedição que pretende retratar da nascente à foz os mistérios e as belezas do Jacuí - e também as agressões que o rio sofre - por meio de reportagens diárias.
O leitor poderá conferir o trabalho na edição impressa do jornal e também pela internet, no site zerohora.com. O repórter Humberto Trezzi e o fotógrafo Emílio Pedroso utilizarão um barco para descer o rio e uma caminhonete nos locais em que navegar é impossível, cruzando pelo menos 22 municípios.
O Jacuí nasce a 730 metros de altitude, no Planalto Médio, região que costuma ter temperatura média inferior a 10°C no inverno. Corre em direção a Oeste e, nos seus primeiros 271 quilômetros, até represas situadas no município de Salto do Jacuí, desce 510 metros. Aí o rio vira em direção ao Sul. É uma trajetória tão abrupta que a declividade média é de 1m88cm a cada quilômetro percorrido. É por isso que no caminho a velocidade da queda forma várias corredeiras que tornam o percurso não-navegável em muitos trechos.
A situação não muda muito entre Salto do Jacuí e o município de Dona Francisca, distante 117 quilômetros, ainda ao Sul. Ali, o desnível é de apenas 185 metros, mas é tão montanhosa a região que, a cada quilômetro, a trajetória do rio baixa 1m58cm.
O terceiro e último trecho do Jacuí, 361 quilômetros entre Dona Francisca e Porto Alegre, é com descidas imperceptíveis e, por isso, de navegação calma e garantida. O rio vira a Leste, em direção à Capital, e desce apenas 35 metros, uma média de apenas nove centímetros por quilômetro - quase nada, se comparado com os trechos anteriores.
Por que o Jacuí? Porque ele foi e continua sendo uma das principais rotas de colonização do Rio Grande. E, dos grandes rios gaúchos, é o que tem mais variada paisagem geográfica e humana. Ao Norte, corta planaltos e morros marcados por matas, trigais e roças de milho e feijão. É a área de colonização ítalo-alemã. Ao Sul, estende-se por planícies onde predominam o arroz e o gado, cultivado sobretudo por brasileiros de origem portuguesa, negra e indígena.
Águas servem para escoar produtos agrícolas e industriais
As águas do Jacuí não servem apenas para irrigar lavouras. Elas são fundamentais para gerar a energia que abastece cidades. Isso é feito por meio de represas que viabilizam o abastecimento de pelo menos cinco grandes usinas hidrelétricas, em Ernestina, Passo Real, Maia Filho, Itaúba e Dona Francisca.
O Jacuí é também importante via de escoamento de produtos agrícolas e industriais. Ele é navegável por cerca de 360 quilômetros, de Dona Francisca a Porto Alegre, trecho no qual se localizam três barragens para facilitar o tráfego de barcos. É ali também que se localizam grandes jazidas de areia extraída para a construção civil e transportada por barcaças até a Região Metropolitana.
(Zero Hora online, 20/04/2008)