Três dos quatro acordos de cooperação que serão assinados durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Gana envolvem transferência de tecnologia pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária na África (Embrapa África).
As parcerias referem-se à produção de biocombustíveis e mandioca e manejo florestal. Diversos projetos já estão em andamento no continente, atendendo a demandas de diferentes países africanos. A Embrapa está instalada na África desde
novembro de 2006.
"A Embrapa tem o domínio da tecnologia de agricultura tropical e esses países da África, em geral, têm um clima muito parecido com o nosso, eles têm cerrados, chamados de savanas. A produção de grãos de cerrados no Brasil, onde se corrige o solo e planta em grandes extensões, se adapta muito bem à África, por isso a Embrapa foi chamada para ajudar nesse processo", explica o chefe da Assessoria de Relações Internacionais da empresa, Elísio Contini.
Em Gana, a Embrapa já atua na transferência de tecnologia para produção de mandioca. "Estamos selecionando algumas variedades e também ajudando no processamento comercial. Estão previstos mil hectares de mandioca, o que é bastante para um país relativamente pequeno", conta. Segundo ele, a produção de mandioca em gana abrirá oportunidades para o Brasil exportar máquinas e equipamentos.
Outro projeto envolve a a plantação de cana-de-açúcar, principalmente para produção de etanol. O projeto é da brasileira Constran em associação com uma empresa africana. "Estamos em discussão de um acordo para apoiar essa empresa", afirma. Em Benin, há cooperação no plantio de algodão.
Em Angola, a Embrapa colabora na criação de um instituto de pesquisa nos moldes da empresa brasileira, com recursos angolanos. O desenho, já pronto, prevê 14 centros de pesquisa. O foco, segundo Contini, é garantir alimentos ao país, em reconstrução após uma guerra civil que durou 38 anos e terminou há apenas cinco anos.
"O Produto Interno Bruto (PIB) de Angola cresceu 28,5% no ano passado, o país está procurando se solidificar e ter, além do petróleo que tem, alimentos", relata. "Eles têm dinheiro mas terão que fazer um esforço forte em treinamento e compra de equipamentos, como fizemos", diz o diretor da Embrapa.
Outra frente são as parcerias trilaterais. Segundo Contini, o primeiro projeto já está pronto: trata-se de um acordo entre Brasil, França e Moçambique para transferência de tecnologia na área de agricultura sustentável e conservacionista no país africano.
Em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), ligada ao Ministério das Relações Exteriores, a Embrapa quer ampliar a atuação brasileira no continente africano para que a cooperação não se limite a ações pontuais. "Estamos olhando para que as nossas ações não sejam pontuais e atenda a demandas muito específicas, mas tenha como objetivo o desenvolvimento dos países africanos", diz Contini. "O Brasil já atingiu um nível de desenvolvimento que pode ajudar a outros países mais pobres", acrescenta.
A África é a região do planeta que mais recebe recursos da ABC. Dos US$ 21,97 milhões destinados pela agência de promoção do desenvolvimento à cooperação Sul-Sul até 2006, US$ 11,43 milhões foram para o continente africano. Os países mais beneficiados foram Cabo Verde (US$ 2,2 milhões) e Guiné (US$ 18,06 milhões).
Cerca de 60% dos recursos destinaram-se à programas de cooperação desenvolvidos pela Embrapa. A instituição também
busca recursos do Banco Mundial e do Fundo Mundial do Desenvolvimento da Agricultura para custear as atividades de transferência de tecnologia para projetos na África.
"A maior necessidade desses países hoje, sem dúvida nenhuma , é a segurança alimentar. Muitos países têm problemas sérios, não têm garantia de produção de alimentos para seu povo. Essa é a grande prioridade e nós, da Embrapa, estamos muito mais voltados para isso do que para outras questões, embora agroenergia seja importante", ressalta.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 18/04/2008)