A tentativa de desqualificar o etanol brasileiro não abalou os ânimos dos megainvestidores que desembarcaram no Brasil nos últimos anos para explorar o promissor setor de açúcar e álcool, nem dos tradicionais usineiros. Além de manter o portfólio de projetos, que custarão bilhões de reais, eles não descartam mais aquisições no País e acreditam que o movimento poderá atrair novos personagens para o setor.
A previsão é que, na safra atual, 32 novas usinas entrem em operação na Região Centro-Sul do País, elevando para 84 o número de unidades inauguradas desde 2005. Isso permitirá que o setor tenha safra recorde, com quase meio bilhão de toneladas de cana-de-açúcar moída e 24,3 bilhões de litros de álcool. Para os próximos anos, outras dezenas de usinas entrarão em operação. Dados da União da Agroindústria Canavieira (Unica) mostram que, em seis anos, o setor receberá US$ 17 bilhões em investimentos.
A expectativa é de que o contra-ataque do governo brasileiro e de entidades setoriais às recentes críticas ao biocombustível esclareça uma série de informações equivocadas e, ao mesmo tempo, torne ainda mais visível o potencial agrícola do País. Hoje, a plantação de cana para a produção de álcool ocupa apenas 1% das terras aráveis do Brasil. Com essa quantidade de matéria-prima, o setor já substituiu 50% do consumo de gasolina.
Pelos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o País tem cerca de 350 milhões de hectares de terras aráveis. As lavouras ocupam área calculada em torno de 63 milhões de hectares, sendo 7,8 milhões de cana-de-açúcar. “O uso do biocombustível não tem volta. No Brasil, já é uma realidade. No mundo, se tornou uma necessidade”, diz o vice-presidente da Comanche no Brasil, João Pesciotto.
A empresa, com sede no exterior e formada por investidores institucionais americanos e europeus, estreou no mercado brasileiro em 2007 com a compra de uma unidade de biodiesel e duas usinas de álcool. “Mantivemos nossos planos. As críticas ao redor do mundo são feitas por pessoas que não conhecem o Brasil”, afirma.
Para Pesciotto, todos resolveram discutir a questão da inflação dos alimentos, mas ninguém fala da alta das commodities provocada pela especulação de fundos de investimentos. Hoje, por exemplo, o volume de transações de café no mercado de commodity é cerca de 20 vezes o total produzido.
“Atribuir aos biocombustíveis a alta dos preços dos alimentos é uma análise simplista demais. Hoje, a população da China e do mundo come mais, o dólar está em queda e o petróleo em alta, o que encarece o custo de produção, inclusive dos produtos agrícolas”, argumenta Marcelo Junqueira, presidente da Clean Energy Brazil (CEB), um fundo de investimentos que tem 100% das ações negociadas na Bolsa de Valores de Londres.
(Por Renée Pereira, Estadão online, 20/04/2008)