Parece trama de conto infantil. A mãe boazinha, com o coração do tamanho de três homens, e seu filhinho esperto têm que superar vários perigos durante a longa viagem que devem realizar, sempre perseguidos por uma gangue de japoneses malvados que querem matar --e comer-- a família.
O "conto", na verdade o documentário "Viagens Oceânicas", sobre as baleias jubarte, vai ao ar no Animal Planet neste domingo (20/04). Uma equipe liderada pelo cinegrafista Feodor Pitcairn teve a sorte de encontrar mãe, apelidada de Mara, e filhote, Kell, quando este tinha apenas um dia de vida, no arquipélago da Polinésia Francesa -espécie de maternidade e berçário natural para a espécie.
Pitcairn resolveu então acompanhá-los em seu périplo anual de mais de 6.000 km até a Antártica, registrando em câmeras de alta definição e microfones ultra-sensíveis. As mais de 60 horas de gravação, depois de editadas, ganharam a narração de Meryl Streep. A atriz parece estar sentada à beira da cama de um bebê enquanto, com a voz mais pausada do mundo, vai nos embalando com dados exóticos sobre as jubarte, seus pesos, medidas etc. O tom de voz poderia levar ao sono, não fosse pelo fato de que essas baleias cantam.
Diz Streep que aqueles sons têm, para as baleias, uma estrutura musical, com diferentes temas que são encadeados, como numa sinfonia. Para ouvidos mais distraídos, soa como uma buzina daquelas que as crianças usam para perturbar os outros durante o Carnaval.
Os sons, emitidos pelos machos, guiam as baleias no seu caminho em direção ao sul e a novos estoques de comida. Ocorre que lá estão os vilões: navios baleeiros japoneses.
Como todo vilão, eles tentam se disfarçar de bonzinhos. Em vez de vovós, fazem-se passar por cientistas. O documentário registra cenas desses caçadores em ação, enquanto erguem para as câmeras cartazes onde se lê: "Estamos coletando material científico" -e puxam mais uma baleia abatida.
(Por Rafael Cariello, Folha online, 18/04/2008)