Na trilha da produção de biocombustível, produtores rurais gaúchos estão ampliando investimento no cultivo de canola. O entusiasmo é tanto que neste ano o plantio pode ocupar uma área até 36% maior em relação à safra anterior. Se a previsão se confirmar, cerca de 30 mil hectares do Estado estarão cobertos neste mês, período tradicional do cultivo.
Os atrativos vão desde os benefícios ao solo para a rotação de culturas à rentabilidade, que ronda a casa dos 70% sobre os investimentos, já que a cotação equivale à da soja.
A semeadura começou cedo este ano na propriedade da família Carassa, no interior de Pontão, no norte do Estado. Apostando na canola desde 2004, eles encontraram na atividade uma boa opção para fazer a rotação de culturas e aumentar a renda no campo. O plantio de 68 hectares lindeiros à lavoura de soja começou no início do mês. Apostando em resultados semelhantes aos obtidos em colheitas anteriores - em 2007, a família plantou 34 hectares e conseguiu uma produtividade de 22 sacas por hectare - , agora investem na duplicação da área destinada ao grão.
- A gente queria diversificar a produção. Primeiro optamos pelo trigo, mas para quebrarmos o ciclo da colheita investimos na canola para fazer a rotação de cultura. Estamos satisfeitos com os resultados - comenta Rodrigo Carassa, 24 anos, que dedica pelo menos oito horas diárias na cabina do trator para terminar o plantio.
Seguindo os passos da família de Pontão, outras centenas de agricultores começaram a se voltar para a oleaginosa. Introduzida no Estado na década de 70, a canola ganhou espaço e fama nos últimos anos graças a seu uso na produção de biocombustível. Mas engana-se quem pensa que está destinada somente ao mercado de combustíveis alternativos.
O agrônomo Gilberto Ferrari, de Passo Fundo, comanda uma empresa que fomenta o plantio da cultura. Com cem produtores envolvidos, numa área plantada de 6 mil hectares, a Agrícola Ferrari incentiva o cultivo da canola para a produção de óleo.
- Quem investir no plantio terá comprador certo para seu produto - explica Ferrari, que fornece a semente, presta assistência técnica e intermedeia a venda da produção.
Por ser uma cultura de inverno, se adapta com facilidade ao clima gaúcho e é uma boa alternativa para a rotação de culturas. Seu custo relativamente baixo de produção - seria cerca de 30% menor do que o gasto no trigo - aliado ao preço atraente e a melhorias que provoca no solo plantado é um dos trunfos para aumentar presença nas lavouras do Estado. Conforme o agrônomo, o custo por hectare gira entre R$ 550 e R$ 600. Mas o lucro pode chegar a 70%, justamente em razão da alta valorização do grão no mercado.
O reflexo dessa rentabilidade está espalhado pelos campos gaúchos. Enquanto no ano passado foram plantados, segundo a Emater, cerca de 22 mil hectares, em 2008 deve chegar a 30 mil hectares, o que vai garantir acréscimo de 36% na área cultivada, principalmente nos pólos de produção de Passo Fundo, Ibirubá e Santa Rosa.
- A canola incorpora nitrogênio ao solo. Então, a cultura que é plantada depois dela (soja ou milho) tem produtividade maior - explica Cláudio Dóro, agrônomo da Emater de Passo Fundo.
Na onda do biocombustível
Da cozinha para os motores
A instalação de indústrias de biocombustível no Estado está estimulando o plantio de culturas alternativas. Na BSBios, em Passo Fundo, no norte gaúcho, 99% da produção atual do combustível vegetal é feita com o uso de soja. O restante é diluído entre outras fontes, como canola e girassol.
Mas os planos para essas culturas, até então secundárias, são ambiciosos. As metas da empresa são tornar as atuais coadjuvantes em estrelas e deixar a soja em segundo plano na produção do combustível limpo.
- Temos projetos para aumentar consideravelmente a área plantada com canola no Estado nos próximos anos - avisa Erasmo Carlos Battistella, diretor de operações da BSBios, que acena com bons dividendos aos produtores que apostarem na cultura.
Para atrair o produtor, a BSBios incentiva toda a cadeia da cultura. Eles fornecem a semente, prestam assistência técnica e garantem a compra de toda produção. No ano passado, foram 4 mil hectares de lavoura cultivados a partir de parcerias firmadas entre cooperativas, empresa e Emater. Para este ano, a meta é atingir área de 15 mil hectares, 37% a mais do que em 2004.
Os lucros com a parceria são positivos. A empresa garante um preço mínimo antes da safra de R$ 42 para as primeiras 14 sacas colhidas em cada hectare. O que vier a mais na hora da colheita será comprado pelo valor atual da saca da soja mais um bônus de R$ 1,50. Para confirmar a seriedade do projeto, Battistella avisa aos agricultores que procurem a Emater de seus municípios para participar do projeto. Apetite não falta para a empresa de energia limpa.
No mês passado, a BSBios recebeu a autorização para exportar biocombustível. A notícia animou a indústria, que deve aumentar a produção. No início do mês, a BSBios acertou a venda de 11 milhões de litros de combustível verde no leilão da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
(Zero Hora, 18/04/2008)